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COLUNISTA
Julinho Mendes
23/03/2011 - 10h01
Espinheiro em flor
 
 
Julinho Mendes 

Espinheiro em flor!

- Vamos pai, vamos catar goiabas e araçás.

- Aonde Julinho? Não tem mais goiabá por aí. Foi o tempo em que qualquer capãozinho de mato tinha um pé de goiaba e de araçá, agora nem capão existe mais.

- Vamos lá pro lado do Ubatumirim, Puruba, que a gente acha algum pezinho de goiaba e de araçá.

E assim, nesse domingo, 20 de março, saímos a procura das tais frutinhas que nessa época do ano encontram-se maduras e saborosas em seus pés, à beira de estrada, caminhos dos sertões e praias que ainda existem por aí. Antigamente, ali no Perequê-Açú, atrás do Rancho do Galo, do terminal turístico, era um goiabá só, que a gente tirava até pra fazer doce. “Acabocetudo!” No vargido do Itamambuca as goiabas e araçás também sobejavam! “Acabocetudo!”.

Espinheiro em flor também indicava a chegada de pampos e paratis nos lagamás das praias e nas beiras de costeiras. Podiam os picarés e as linhas estarem prontos que a pescaria era certa. “Acabocetudo!” Hoje, esses peixinhos ainda rodam essas costas e caem nos tresmalhos e anzóis de pescadores esportivos e de outros que pela tradição sobrevivem ainda dessa cultura.

Espinheiro em flor!

- Julinho, pegue lá uns saquaritás, uns guaruçás e umas tatuíras, que de tardezinha vamos matar um sargo, uma piragica na costeira, o bicho agora tá que é só gordura. Sargo bom e piragica pra comê, é de agora pra frente, depois de julho não presta mais!

Assim me falava papai, quando tinha lá meus 7, 8 anos. E eu gostava desses afazeres, dessa amizade e companheirismo com meu pai! Era aonde se aprendia e se passava a gostar e a cultivar a cultura caiçara...

E a gambá? Também com o espinheiro em flor. É d’agora pra frente que a bicha tá que é só gordura; em maio tem gambá roliça, chega a ter um dedo de toucinho no lombo.

- Vamos fazer uns cumbus, Julinho, e vamos armar um no morro da prainha e outro no Morro da Berta.

Foi-se o tempo do cumbu!

Sabe que hoje tá mais fácil conseguir uma gambá? Basta andar pela Rio-Santos e apanhar as gambás mortas, mas fresquinhas, que foram atropeladas durante à noite na rodovia, mas tem que ir antes dos urubus e dos gaviões carcarás. Todo dia tem gambá morta na rodovia! Coitadinho do bicho! Eu até tentei marcar uma conversa com o Barack Obama pra falar sobre os gambás; foi em vão, mas de qualquer forma encaminhei uma carta pedindo a ele que faça uma campanha em proteção aos nossos gambás. O bicho é feio, é fedido e cabeludo, mas Obama sabe que o bicho é saboroso, então, com certeza, Barackinho vai mandar recursos para a proteção de nossos gambás.

Embora simpático como uma flor, Barack é que nem flor de espinheiro: não se deve cheirar, haja visto que, mesmo aos pés do Cristo Redentor, mandou pregar fogo no Kadafi que, diga-se de passagem, também é flor que não se cheire.

A flor do espinheiro é flor que não se deve cheirar porque tem muito pólen e pra quem é alérgico é um veneno às vias respiratórias. Mas com o fim do verão, finda também a flor do espinheiro.

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