Em primeira pessoa, às mulheres, ao sirizinho O Guaruçá
Oito de março, dia de homenagear as mulheres, todas elas, e também as da minha vida, como diz, um tanto sarcasticamente, a Marlene, a mulher da minha vida. É que estou no segundo casamento, depois de passar por aventuras e tentativas. Mas é dia sim de homenagear as mulheres da minha vida, todas elas, as passadas, as presentes, as futuras - porque quero netos e, especialmente, netas. As que me ensinam, sempre, que para além das diferenças dimórficas meramente biológicas, há dois universos que podem, e devem, respeitosamente, dialogar. Desconstruir meu machismo de berço não é tarefa fácil, é exercício cotidiano, mas ao qual dedico boa parcela das minhas energias - verdade que nem sempre com sucesso, é forçoso reconhecer. A suavidade e a incrível força que têm moldam um mundo melhor. Sua capacidade de criar laços, tecidos depois em redes, seja na família ou fora dela, garantem aos mais indefesos e desvalidos, especialmente as crianças e os idosos, a atenção básica que garante a esses a dignidade de pessoas humanas. Todos nós já dependemos, e ainda vamos depender delas, as mulheres, para garantir nossa dignidade. São as que gestam nossos filhos, biológicos e de afeto, e isso é tarefa exclusiva e monumental. Mas também as que nos ombreiam na construção da sociedade, dos PIB e "pibões", do complexo mundo do trabalho, ainda que nem sempre com o merecido e necessário reconhecimento. É a elas, elas todas, desde o passado ao porvir, que homenageio hoje. O Guaruçá Há pessoas em Ubatuba, escribas, que conheço pessoalmente, e nisso fiz gosto. Cito de pronto o Julinho Mendes, o Luiz Moura, o Saulo Gil, o Sidney Borges. Há pessoas em Ubatuba que não conheço pessoalmente, mas gostaria de conhecer. José Ronaldo dos Santos, Eduardo (que não é César) Souza, Ezequiel dos Santos, Emilio Campi. Escribas, de horas vácuas ou não, deleito-me com seus textos. Há outros escribas mais eventuais, escrevem com menos frequência, mas que também quero conhecer. Há também pessoas que não conheço pessoalmente, e nem faço gosto em conhecer. Igualmente escribas, ainda que os tenha eventualmente citado em algum texto, não causaram empatia e um, ao menos, mostrou-se desequilibrado e pérfido. Esse é o mundo real, de formato virtual, que o valente sirizinho aniversariante possibilita. O Guaruçá completa hoje sete anos de existência, com edições diárias ininterruptas, graças ao esforço pessoal de seu editor, o Luiz Moura, o único que realmente sabe a trabalheira necessária para isso. O Guaruçá, nossa oca eletrônica da Tribo dos Bebe e a única revista em Ubatuba onde, democraticamente, todos, de todas as tendências, têm a possibilidade de se expressar. O Guaruçá, revista que não precisa de moções formais para ter reconhecida sua importância na nossa comunidade. Tenho uns cem textos publicados aqui, desde setembro de 2009, e, certamente, uma meia-dúzia de leitores. Não tenho como citá-los todos, mas devo agradecer a todos e, especialmente, aos que, de alguma forma, por e-mail ou pessoalmente, fizeram elogios e críticas. Por conta desses mistérios que fazem da Informática uma ciência exata... exatamente aleatória, fiquei sem receber um número não identificado de comentários de leitores, essa meia-dúzia dos que lêem nossa oca eletrônica, nosso sirizinho valente e democrático, a revista O Guaruçá. Mas, dos que chegaram, preciso fazer necessário registro: são comentários bem-vindos, sejam para concordar, sejam para criticar, sejam para dizer o que for. Democracia não é o espaço da arrogância, de ser o dono da verdade, de ser o hiper-super. Democracia é o espaço da opinião contraditória, da humildade em reconhecer que o dedão em riste do opositor faz algum sentido, da suprema humildade de ver em quem critica uma possível boa-fé, tão importante quanto à nossa boa-fé em criticar e, às vezes, elogiar. Ver sempre má-fé, interesses escusos, interesses políticos escusos, é o espelho de quem sempre usa essas práticas, de quem se põe no trono do rei. Ver boa-fé em tudo pode ser ingenuidade: convenhamos que vale o tempero, a temperança. Carrego nas palavras que escrevo, sei disso, um tanto de arrogância. Mas, em todo o caso, sou desprovido de poder, não fui eleito, não sou "o eleito", e - os que me conhecem mais de perto sabem disso - minhas opiniões fortes não são pétreas, não se transformam em dogmas, e tenho muito, mas muito claro mesmo, que minhas incertezas superam, de longe, minhas parcas, pouquíssimas, e sempre provisórias certezas. A vida ensina muito, a quem se dispõe a ser um eterno aprendiz, o que tenho a veleidade de tentar ser. Ensina, especialmente, a conviver com o diferente, com o contrário, com o contraditório, com o adversário. Ensina que posso conviver, nesta nossa oca eletrônica, com a direita assumida que em geral abomino, com os cri-cris valorosos, com os amorfos, com a esquerda reticente, com essas coisas de Ubatuba. E ensina que a opinião do Outro, seja quem for, tem a mesma importância que dou à minha. Oito de março, dia de escrever em primeira pessoa, pois são meus agradecimentos e homenagens às mulheres e a O Guaruçá.
Nota do Editor: Elcio Machado (cidadania.e@gmail.com), 60, batizado como Elciobebe, sob as bênçãos e maldições de Cunhambebe, caiçara em construção. Mantém o blog Exercícios de Cidadania (cidadania-e.blogspot.com). Permitida a reprodução, desde que citados a fonte e o endereço eletrônico original.
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