Versão
Julinho Mendes | |
Vivia num lugar de muitos caraguatás, que seu povo chamava de Caraguatatuba. Caiçaras também, pois viviam entre a serra e o mar, cercados pelas serranias da Mata Atlântica. Era uma aldeia Tupinambá onde em certa época apareceu uma jovem, delicada e bondosa freira. Esta tinha a missão de catequizar aquele povo. Iuriti era um jovem Tupinambá, amante do mar e tinha uma predileção em observar, nas noites de lua nova, as brilhantes estrelas daquele céu sem fim. Fazia isso deitado numa pedra a beira mar. Gostava das que corriam com suas caudas incandescentes a sumir no infinito. Numa noite daquelas, uma estrela riscou o céu e veio em sua direção, tinha um brilho diferente, verde esmeralda, luz que nunca tinha visto. Veio vindo, veio vindo e, diante de seus olhos, caiu naquele mar sereno, a poucos metros de si. Assustado pensou em correr, mas foi forte e ficou a olhar o encapelar das ondas, causado pelo encontro da estrela com o mar. Não demoraram muito as ondulações, viu então que aquela estrela ainda brilhava no fundo do mar. Agora cintilava uma luz morna, mas ainda de intensa beleza. Com coragem de guerreiro, num mergulho resolveu buscá-la. Notou então que quando se aproximava, a estrela se afastava. Voltava à tona, respirava e em nova investida seguia atrás da estrela. E nada! Voltava à pedra e via que ela ainda estava lá. Daí pra frente passou apenas a observá-la, toda noite ia visitá-la e adorar aquele verde esmeralda que lhe intrigava. Por coincidência ou não, foi no dia seguinte que veio a conhecer aquela estranha figura, com estranha rouparia, que da cabeça aos pés fazia-se cobrir. Via-se em meio aos demais da tribo, jovens e crianças que a abraçavam e lhe davam as mãos. O que seria? Curioso foi ver o rosto. Era linda! E o mesmo verde esmeralda da estrela lhe saiam dos olhos. Estatelado e emudecido ali ficou a olhar aquele verde olhar. Era a estrela! Seu coração palpitou num sentimento único, coisa que nunca tinha sentido. De súbito sumiu... Já estava lá na pedra olhando o mar, tentando ver a sua estrela, mas não a viu... Sem arredar pé ficou a espera da noite, e nesse percurso só avistava aqueles lindos olhos verdes... Aquela noite demorou uma semana, talvez um mês, foi quando deu por conta do que tinha a fazer. Aspirou todo o ar do mundo e mergulhou em busca da estrela, que agora já não era mais dele, já tinha outro dono: a freira. Impossível! Ela se afastava ao se aproximar. Tentava, mas era em vão. Tinha o nome de Maria. Maria, Maria, Maria. Foi a primeira palavra que Iuriti aprendeu. Maria eram seus pássaros. Maria eram seus peixes. Maria eram seus caraguatás. Maria era o mar. Maria eram suas estrelas. Maria era sua luz esmeralda. Conheceu Maria que o conheceu também, no mesmo sentimento, mas a jura de Maria era o amor divino. Numa tarde, caminhando em lagamá da praia, Maria presenteia Iuriti com um crucifixo em colar de ouro. Querendo retribuir da mesma maneira, Iuriti pensa na estrela que caíra no mar e convencendo a freira foram ao local de seu presente. A noite chegou e ela surgiu, com a mesma cor, mesmo brilho, tal qual os verdes olhos de sua amada. Contou a ela sobre aquela estrela e sua intenção de presenteá-la. - Não vá! Pediu-lhe a freira. - Não deu ouvidos. Chamou todo ar que seus pulmões podiam agüentar e mergulhou em busca daquela verde luz... Da pedra, ela viu a luz se afastando... - Volte meu amor!!! - Não arredou pé e em orações ficou. Dia e noite, noite e dia. E por amor, freira em pedra se transformou.
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