Sirenes desesperadas no caos de nossas ruas: o som de Ubatuba, a trilha sonora desta temporada. Fico a imaginar o cenário do nosso hospital: o calor senegalesco e a muvuca do entre e sai de ambulâncias e a impotência dos que esperam ser atendidos. Impressiona também a bagagem civilizacional das pessoas nas ruas, sejam a pé, de bicicletas, motos ou automóveis. Coisa de primeiro mundo. Eis um retrato eloquente do nosso turismo, da nossa principal fonte de riqueza. O Julinho Mendes outro dia, aqui na O Guaruçá, esperneava com a indiferença para com o turismo cultural no município. Que turismo cultural, que nada, Julinho! Atrativo turístico continuarão sendo as praias. Ah, e esse “Show de Verão”? – Você poderia me perguntar – Não é atrativo turístico? Vamos admitir que seja. Mas queria ver esses shows no período da entressafra, quando a cidade não tem uma viva alma para sustentar o nosso comércio. Na temporada de verão, os turistas vão aos shows porque já estão por aqui mesmo, porque vieram, não pelo evento, mas por causa das nossas "famosas praias". Choveu, fodeu, Julinho. Os visitantes não têm o que fazer. E tem outra: para o nível cultural dos "turistas" com que somos torturados hoje em dia, basta um evento tipo concurso de carros sonorizados com direito a um kit de pão com Marba, uma garrafa de 51 (ou Simba para os abstêmios) e tá tudo belê. O Ávila outro dia me disse que Ubatuba tá parecendo Taubaté de antes do engenheiro Ortiz. Tive de engolir. Quietinho. Repare nas entradas do município e nas da cidade: com que se assemelham, meu caro amigo? Parecem mais saídas. Não lhe parecem? Diria até que estão mais para cloacas... Uma cidade, Julinho, antes de ser turística, tem de ser uma ou a cidade, ou tô errado? Ah, e não fale mal de Ubatuba: há uma verdadeira campanha para induzir-nos a crer que tudo está lindo e maravilhoso. E quem não reza nessa cartilha, quem não está a favor, é inimigo público. Lembra os tempos da ditadura: Ubatuba ame-a ou deixe-a. Nunca antes na história deste município se viu tanta gente dizer que ama esta cidade, Julinho. Deve ser amor sexual. Você já viu alguma vez tanta gente assim fodendo Ubatuba como agora? Pobrezinha. Uma zona... E nós, Julinho, com esse amor platônico pela terra de nossos antepassados, ficamos a ver navios...
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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