Tevê à manivela
Via de regra - talvez até de 3, 4, 5 ou seis -, sai a maquiavélica Clara (Mariana Ximenes) com a leva de carcamanos de “Passione”, certamente produzidos “in vitro” global, entram as neves de “Insensato Coração”, onde o eterno lema do “trair, ficar, coçar e recomeçar” não muda em nada. Apenas nos personagens. Enfim, sai uma turma, entra outra ao som daquela famosa campainha que mais parece monopólio. Compram numa loja só. A 1,99. E que de “orelhinhas” e “orelhões”, escutando atrás da porta, também vem a ser o nó cego de toda estória que de verdade, de verdade mesmo, é bem do tipo daquele filme que já vimos antes. Rebobinado. Retocado. Recauchutado. Pois muito bem! Sai a Clara e entra a Natalie Lamour (Deborah Secco) com direito a blog homônimo na internet e tudo. E que se você ficar curioso em saber mais vai lá dentro ver do que se trata. De quebra, ainda, na trama do Gilberto Braga, tem o conquistador André Gurgel (Lázaro Ramos) que promete pegar todas. Se bobear pega até os figurinos, claquetistas, ensaístas, donas de casa no plantão teledramátio (de fazer roer as unhas dos pés) das 9h e pouco, mostrando que é o cara. Que nasceu (ao menos no papel) para conquistar. Acaso fosse lá o TEL, o André seria o TAL! Claro, em telenovela brasileira hoje, ao estilo sexy appeal, tudo tem que ser para lá de chique, de doer, conversa mole, e o que mais o autor quiser. Brigas entre casais é fichinha. O pecado da carne, mais que fraca. Coisa que do tipo “Os ricos também reclamam”, na sempre árdua labuta “onde come um, comem dois, três e um pouco mais” não tem preço certo que pague. Com tanta tecnologia de ponta, alta definição, dormir maquiado e acordar, sic, lambuzado é pouco. De salto alto, oras, não duvide nada e que o milagroso photoshop (“À espera de um milagre”, igual o filme?, para quem não viu, ou não viu porque não quis) repara qualquer tipo silhueta mal escondida, pneuzinhos indesejados, umbigo fora do lugar, ausente, air bags desfocados. Sai a Clara, entra a Marina Drumond (Paola Oliveira), uau, e que com essa aí toparia uma leitura em braille (ops) que curaria toda a minha miopia em estado adiantado. Mas como dizia (mas o que diabos eu estava dizendo mesmo?) no jogo da sedução, capítulo pós capítulo, onde amar não se compara mais em nada com o transitivo... o que importa parte da comissão de frente, do desejado “frente e verso”, porta-bandeira, essas alegorias todas que saltam tanto aos olhos de qualquer Joãozinho bom de coçar a barriga no sofá. Isso sem falar da maravilhosa evolução ampliada em 3D. Agora, a Paola Oliveira em “três de” não podia faltar diante daquela inevitável pergunta do “porque dessa tela tão grande”, seguido da resposta “que é para te enxergar melhor, Mariacreuza”. (Como dizia...) Sai do ar a maquiavélica odiada invejada pistoleira Clara, entram os sete pecados (i)imortais da carne quando a cor do dinheiro é a que fala mais alto e que dentro das sempre repetidas finésses autorias, vale a questão do “quem copiou de quem”. Se inspirar no que é alheio pode muito bem significar xeretar, se é que ainda não foi avisado. Via de regra - 1, 2, 3... - querem eles lá saber se vamos nos conformar apenas, do lado de cá, em não querer imitar um pouco dessa sétima arte que mapeia vidas e mais vidas na agitada novela que se tornou a minha vida, como da minha vida que se tornou a minha novela! Não necessariamente nessa ordem, repetimos ALTO e em BOM TOM, imitar tornou-se mais que preciso. Os “brothers e sisters 11”, no comando do Pedro Bial - que só dá as caras na tevê para espiar nesse período - esses aí vão um pouco mais além dos edredons/imaginação. Nessa categoria aí, aliás, asseguram seus organizadores, participantes, tudo não passa de um jogo. Algo diferente, assim, de DENOREX, da mais pura afinidade, de encenar o físico, expôr as tatuagens feito desenho animado, se movendo, pedindo o espinafre pro Marinheiro Popeye para ficarem mais fortes. Não duvide. Sai a odiada Clara, em glórias de sexy and the city à sombra do velho lobo Totó, e que ela, em capítulo inicial desses mereceu até dublê de corpo (lembrar que o photoshop resolve qualquer tipo de unha encravada, bumbum pouco arrebitado) entra a “tropa de elite” nos personagens Alice Miranda, Bibi, Carol, Cecilia Machado, Raul, Umbertão Brandão, Oscar Amaral. Sem esquecer de mensurar que temos um Zeca Peçanha no meio do caminho. Sim, no meio do caminho da invejada, desejada, cortejada e apaixonada Marina Drumond (que da minha parte mereceria aquela leitura dinâmica várias vezes repetidas, ops) temos um Zeca no meio do caminho. No meio do caminho temos um Zeca dentre outros comilões mais! Oooops! Nas ruas, nos bares e nos lares, a conversa pouco “insensata”, no tocante a ir ou não ir ao cardiologista, não podia ser outra...
Nota do Editor: Celso Fernandes (modarougebatom.blog.terra.com.br), jornalista, poeta e escritor, autor de “As duas faces de Laura”, “O Sedutor”, “Sonho de Poeta” (Ed. Edicon), entre outros. Colunista de Moda, Cultura & TV, escreve semanalmente em jornais, revistas e sites relacionados às áreas.
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