Julinho Mendes

Estava no banco da proa da canoa uma sororoca e uma anchova de uns três quilos mais ou menos cada uma. Queria comprar aqueles peixes para fazer com banana verde, para umas visitas que chegariam em casa. Procurei o Bidico, não o achei, procurei o Paca, também não. Olhei para o sul da praia do Itaguá e vi um aglomerado de gente. Falei para o meu pai:

- Talvez eles estejam lá naquele bolo de gente!

Chegamos lá. Acabavam de puxar a rede de arrasto do mestre Aládio. O motivo da aglomeração era pra ver o buta robalão de uns oito quilos que veio na rede. Realmente um belo peixe.

- Aládio, faça o favor, limpe esse peixe que eu vou levar! - Falei ao Aládio.

- Esse peixe já faz três dias que tem dono! - Falou-me o Aládio.

- Como assim Aládio, se o peixe ainda está vivo?

- Ah, Julinho, este peixe é do Carlito Vigneron, que me encomendou faz uns três dias!!!

O Bidico e o Paca estavam no aglomerado, espiando também o robalão; fui conversar com eles para ver se me vendiam os peixes que estavam na canoa.

- Bidico, aquela sororoca que esta na canoa é sua? - Perguntei.

- A sororoca é do Paca e anchova é minha! - Respondeu Bidico. - Olha Julinho, se você quiser uns cangauás, umas embetarinhas, eu tenho lá; mas a sororoca e a anchova já são do Carlito! Peixe bom quando chega aqui já tá vendido pro Carlito! - Bidico falava e o Paca confirmava.

- Mas que tanto peixe o Carlito vai comer?

- Olha Julinho, todo peixe de primeira que chega aqui já tem endereço de entrega; é do Carlito, e pode ter certeza que ele come tudo! Nunca vi homem pra gostar de peixe assim, parece um gato! - Brincou Bidico.

- Olha, Julinho! - Brincou, agora, o Paca - O Carlito tem escama na canela de tanto comer peixe!

- Éééé, desse jeito é pra criar escama na canela mesmo!

Saímos dali, eu e meu pai, meio desanimados, e fomos no mercado de peixe ver se o Carlito não tinha andado por lá, para ver se achávamos algum peixe bom. Papai ainda falou:

- O Carlito, além de ser o “maior fazedor de meia de seda”, é o “maior comedor de peixe de Ubatuba”.

Realmente, um lugar fácil de se encontrar o nosso querido Carlito era ali, bem cedinho, no velho ranchinho dos pescadores, na praia do Itaguá.

Essa memória me veio, após ter visto, nesse domingo de manhã, frente ao rancho dos pescadores, na praia do Itaguá, a figura de um turista parecido com o saudoso Carlito Vigneron, que nos deixou em agosto de 2000.