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Numa certa cidadezinha, porém “cidadezona” em arrecadação de impostos, um certo vereador, considerado o “rei das moções”, ao percorrer uma rua dirigindo seu carro, notou que ao término do trajeto, seu veículo arriou, pois os amortecedores não agüentaram de tantos buracos, e não foi só isso, notou ainda que suas nádegas estavam em calos. A rua tinha o nome de Bráulio, na qual morava um correligionário amigo seu. - Rua maldita! Como é que o companheiro de bancada não reivindica a melhoria da rua onde mora? Irei passar a rasteira nele. Vou dar um jeito nessa rua! - Assim falou Zé Moção. Dias depois, ainda com as nádegas em pandarecos, foi direto ao gabinete do prefeito. “Pê” da vida, nem bom dia disse ao padrinho e foi logo falando de seu projeto: - Chega de moções! Estou decidido fazer algo para amenizar o sofrimento dos munícipes que moram em ruas não pavimentadas. Estou sentindo na pele, ou melhor, na bunda, o sofrimento de quem mora numa rua esburacada. A rua Bráulio, aquela do vereador Marião, onde o senhor fez várias reuniões para pedir voto, aliás desde quando o senhor era vereador, tá que é só buraco, parece o mapa da lua, tem até guaruçá morando lá. Não adianta só passar máquina niveladora, pois tira a terra da rua, faz um lamaçal danado e os buracos voltam em poucos dias. O prefeito, de olhos arregalados e boquiaberto só ficou ouvindo. E continuou Zé Moção: - É o seguinte meu padrinho prefeito, naquela rua existem 90 lotes de 90 pagadores de IPTU, o valor médio que a prefeitura arrecada mensalmente naquela rua é de R$ 90 mil reais, o que dá anualmente um milhão e oitenta mil reais (1.080.000). Veja bem meu padrinho, sete anos já passaram e já que o senhor não tem coragem de elaborar e executar um projeto de calçamento adequado, até com a ajuda dos moradores, então vamos gastar R$ 80 mil reais e fazer um trabalho de terraplanagem que vai deixar os moradores contentes, basta apenas, uma vez por ano jogarmos uma camada fina de saibro, passar a máquina de forma que a rua fique boleada, pronto, os moradores se contentarão e verão parte do dinheiro de seus suados impostos sendo bem utilizado. Isso é melhor do que buracos! Já falei com a maioria da bancada e vamos aprovar. Cada rua tem seus pagadores de impostos e a prefeitura arrecada deles um dinheirão, já que o senhor não é capaz de projetar uma urbanização que a cidade merece, vamos pelo menos remediar a coisa até que apareça outro prefeito e que tenha coragem de trabalhar pela cidade. Vendo seu afilhado vereador, de bunda calejada e extremamente nervoso, o prefeito assim falou: - Calma, meu menino! Agora não é hora! A hora agora é de colocarmos o Gege no governo e mantermos o Gigi no legislativo do Estado, depois é só bonança, vai sobrar “dim dim” para gastarmos em seu projeto. Pense bem meu afilhado, não vai fazer besteira, temos que nos concentrar nas próximas eleições para prefeito dessa cidade e você poderá ser meu abonançado sucessor. - Não me venha com essa lenga-lenga meu padrinho. - Rebateu Zé Moção. - Esse papo tá manjado e o povo quer ver trabalho. - Manjado tá você com essas moções! - Retrucou o prefeito. - É por isso mesmo que irei mudar meu modo de atuar, e fique o senhor sabendo ainda, que passarei a cumprir com meu verdadeiro dever, irei fiscalizar os seus atos. E o pau quebrou no gabinete do digníssimo prefeito. Na sessão de Câmara seguinte foi aprovado, quase que por unanimidade o projeto do Zé Moção. Projeto de lei que obriga o executivo a destinar 0,007% da arrecadação de cada rua não pavimentada a executar serviço de recapeamento a saibro e nivelamento das ruas, todo ano, pondo fim aos terríveis buracos que incomoda e caleja a bunda dos moradores. Onde já se viu? Surto? Peso na consciência? Nunca! Zé Moção encheu a pança de pizza e foi dormir. Teve um terrível pesadelo! Já dizia o Dr. Malakutaku: “Se não dá para curar, vamos remediar. Remediando dá para enganar”. E na cidadezinha enganam sem remediar, e muita gente está contente!
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