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Dias seguidamente claros, ensolarados, temperatura amena e a cidade vazia de turistas... Certa feita, reuni no plenário da Câmara Municipal alguns hoteleiros para discutir os problemas do turismo que, então, afligia os empresários da hotelaria e, quero crer, continuam afligindo. Questões relacionadas a investimentos necessários para atrair o turista nos períodos da entressafra, ou seja, fora das temporadas; a questão veranistas versus turistas, as melhorias da infra-estrutura urbana para recepcioná-los etc. Uma experiência tão inesquecível que nunca mais procurei repeti-la. Foi no início dos anos 70, no século passado, no tempo em que presidi o legislativo ubatubense. Dessa reunião, pelo menos, restou-me de positivo a amizade com o saudoso Dorival Mathias, que, naquela época, iniciava suas atividades empresariais em Ubatuba. Como se vê, há 40 anos Ubatuba patina em busca de uma política consistente para sua principal atividade econômica. Naquela época, a galinha dos ovos de ouro era a nossa esplêndida beleza natural, a tranqüilidade, a segurança e também a hospitalidade do povo nativo. Hoje, há outros lugares também esplêndidos pelo Brasil afora, de fácil acesso, coisa que naqueles tempos não havia, e com um fator que pesa contra nós: nesses lugares não chove tanto como aqui. Desde então, a nossa galinha dos ovos de ouro vem sendo depenada pelo turismo de massa, pelo veranista do pão com marba e dos carros sonorizados que tanto agradam o Julinho Mendes. Por que isso acontece? Por que os setores mais diretamente relacionados com o turismo não têm poder de fogo, não têm propostas comuns, não convergem para serem veementes na exigência de políticas públicas sérias para o turismo? Por que o turismo cultural, náutico e o eco-turismo ainda não se consolidaram como alternativas aos veranistas, como atividades para os períodos de entressafra? Não creio que possa haver política séria para as nossas principais atividades econômicas sem que haja a participação efetiva dos nossos empresários, dos representantes da sociedade civil organizada e dos cidadãos interessados. Inclusive, é o que determina a lei municipal nº 2892, de 15.12.2006, a que criou o Plano Diretor Participativo. Infelizmente, essa lei não é cumprida, e penso até que seria o caso de, por exemplo, o Ministério Público saber o porquê, afinal, a Constituição Federal, no artigo 182, estabelece que o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, é obrigatório e é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. Ou tô equivocado?
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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