Sabendo das lamentáveis armações políticas em torno do que seria a nossa tradicional Festa de São Pedro estava preparado para não me manifestar sobre o que viria. Lembrei ainda nos conselhos do meu amigo “élebê” para deixar de escrever sobre a atual administração. Resisti até o último dia 29, mas não teve jeito e aqui estou de novo. Desculpe meu amigo “élebê”, mas no fundo, no fundo, você sabe e sente também a progressiva degradação que a atual “política” de nossa cidade vem fazendo com nossa cultura e nossa raiz, você é um homem vivido e viajado e tá vendo o rumo submerso que o navio das moções e as vaciladas de um escafandrista, estão nos levando. Psicologicamente preparado e concentrado, no dia 26 fui para a 87ª Festa de São Pedro Pescador (tenda armada na avenida Iperoig), para assistir, única e exclusivamente, o concurso de dança de quadrilhas, a dança da fita e o cantor e compositor caiçara Luiz Perequê. Não vi concurso algum, a fita enroscou e uma infernália de rock fez com que o show do Perequê atrasasse em uma hora, e quando começou, o público familiar que gasta na festa já tinha sumido. Meus senhores, rock não combina com dança da fita, com xiba e congada, acordem! Ah! E vocês sabem o porquê da fita ter enroscado e o concurso ter falhado? Depois eu digo! No domingo, 27, a corrida de canoa, mais uma vez mostrou a força, a técnica, a coragem, a habilidade do remador caiçara, mas vale aqui lembrar que se não fosse a coragem e o diálogo de alguns caiçaras a corrida não teria ocorrido. Foi muito bonito e mais uma vez estão de parabéns os nossos remadores que, com alegria e tradição, fizeram o evento acontecer. À noite, de volta ao local da festa, esperava ansioso pelo grupo de congada de bastões do bairro do Puruba, comandada pelo mestre Dito Fernandes, e pelo grupo de Xiba do Prumirim, do mestre Orlando. De repente surgiu um batucão. Meu coração batucou junto, de alegria, pensei que fosse a congada e o xiba vindo juntos, mas não era, meu coração murchou e parou de bater por uns dez minutos, sorte que minha mulher me fazer respiração boca-a-boca, meu coração retomou e passei a ver e ouvir o tal batucão. Era maracatu taubateano “Baque do Vale”. Bacana, mas...! Depois disso os Demônios entraram na festa do santo, saiu faísca no palco, foi o que salvou a festa, com qualidade e poesia o samba dos senhores da Garoa contagiou. Segunda, 28, estava eu lá de novo e outra vez, na esperança de assistir a congada do Puruba, o xiba do Prumirim, a fita do Itaguá, o nosso boi bumbá, Maria Angu e João Paulino, bolo de fubá, paçoca de pilão, café de cana, fogueira com estouros de bambus e abricós... Ilusão. Nada! Teve alguma sinfonia misturado com pagode de samba meloso. | Arquivo UbaWeb | | Bado Todão na ópera "As lavadeiras de rio e seus amores de mar". |
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Aí chegou o grande dia, 29 de junho, de São Pedro Pescador. 09h32 já estávamos na belíssima praia da vila de Picinguaba. Fomos (O Guaruçá) assistir a uma ópera popular caiçara. Sim! Ópera: “As lavadeiras de rio e seus amores de Mar”, de Bado Todão, um espetáculo teatral e operístico falando de nossa cultura. Que bonito! Que emoção! Que orgulho em saber que temos artistas tão preparados e talentosos em nossa terra. Juntos, nessa ópera cantamos Reis, Divino, dançamos congada e xiba, remamos em canoas de timbuíba e guapuruvu, corremos em correnteza de rio e nas ondas do mar, pescamos gonguito, parati, e no fogão a lenha o sabor do café de cana e do pirão. Que gostoso! Cheguei em casa a TV Globo (Vanguarda) já estava mostrando para todo litoral Norte e Vale Paraíba o grupo Ubacunhã de Ubatuba na praia de Picinguaba; fazendo lembrar e mostrando a homenagem que Ubatuba fez aos pescadores e ao Santo padroeiro Pedro Pescador. Que orgulho! O grupo Ubacunhã, nesse dia de São Pedro Pescador, 29 de junho, salvou Ubatuba de mais um vexame patrocinado pela política e politicagem impregnada nessa cidade devido a NÃO realização da procissão marítima em homenagem ao nosso santo padroeiro. Fiquei pensando: “Foi milagre de São Pedro, fazer com que a TV Vanguarda NÃO mostrasse o manifesto dos pescadores contra a politicagem que interferiu na realização da procissão marítima e a benção dos anzóis em alto mar, uma manifestação cultural religiosa que acontece a 87 anos e que foi quebrada! Foi milagre!” E ainda agraciados jornalecos de papel borrado e outros midiáticos defendem o politiqueiro-mor! Lembram do tal resgate? Está acontecendo! Regataram o fim do carnaval de rua de Ubatuba e instituíram, na avenida do samba, tiro de festins, morteiros, porrada e balas de borracha. Resgataram o fim da realização do desfile cívico de 28 de outubro. Resgataram o fim do investimento e apoio para a cultura e ao artista local. Resgataram o fim do enfeite natalino e carnavalesco da cidade. Resgataram o fim do patrimônio visual que se tinha da Igreja Matriz, o fim do mosaico português, o fim... e por fim, o fim da procissão marítima de São Pedro Pescador; e não será o fim, porque irão arrumar jeito ainda de resgatar o fim da Festa do Divino Espírito Santo... E por falar em festa do Divino, já passou da hora de darem um trato legal na Praça da Matriz onde acontecerá a Festa do Divino. Espero, meu amigo “élebê”, pelo seu conselho, que esta crônica seja a última. Aos pescadores de Ubatuba fica aqui a minha solidariedade e caso vocês forem fazer a sua festa aí na ilha, podem contar comigo e com meu violão. Cantarei para vocês! Lembrando que “Em briga de pedra e mar quem apanha é o guaiá”, e parafraseando “Na briga do prefeito com os pescadores quem apanhou foi o santo”.
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