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COLUNISTA
Eduardo Souza
07/06/2010 - 07h04
Árvores
 
 

Meu pai era amigo das árvores. Há uma história do meu velho sobre uma amendoeira, de porte médio, que ele transplantou para bem rente à costeira, na boca da barra do rio Grande, para poder pescar sentado à sombra da dita cuja.  Conheço pessoas que se relacionam bem com as árvores e outras que não se dão muito bem com elas. O caso da amendoeira extirpada lá de perto do Cruzeiro é um exemplo, ficará na história da cidade. Dizem que no inferno os misoarbóreos não terão sombras para se refrescar. A árvore é um dos mais eloqüentes símbolos da humanidade.

Símbolo da vida, em perpétua evolução. Simboliza o aspecto cíclico da evolução cósmica: morte e regeneração. A árvore, em seu simbolismo, "põe igualmente em comunicação os três níveis do cosmo: o subterrâneo, através de suas raízes sempre a explorar as profundezas onde se enterram; a superfície da terra, através de seu tronco e de seus galhos inferiores; as alturas, por meio de seus galhos superiores e de seu cimo, atraídos pela luz do céu. Répteis arrastam-se por entre suas raízes; pássaros voam através de sua ramagem: ela estabelece, assim, uma relação entre o mundo ctoniano e o mundo uraniano. Reúne todos os elementos: a água circula com sua seiva, a terra integra-se a seu corpo através das raízes, o ar lhe nutre as folhas, e dela brota o fogo quando se esfregam seus galhos um contra o outro." (...) "Mas é a cruz, instrumento de suplício e de redenção, que reúne em uma única imagem os dois significados extremos desse significado maior que é a Árvore: pela morte para a vida - per crucem ad lucem, pela cruz para a luz" (Dicionário de Símbolos - Jean Chevalier e Alain Gheerbrant).

Há várias espécies de árvores de que gosto, mas tenho certa predileção poética pelo guapuruvu. Potestades da Mata Atlântica, vigilantes altaneiros, engalanados de florzinhas amarelas, troncos aprumados, lisos, esbranquiçados, os guapuruvus se sobressaem às demais árvores. A alma do guapuruvu tem forma de canoa. Do alto da Serra do Mar, eles observam reverentes o Atlântico. O oceano é o céu dos guapuruvus. Quando morriam, conforme o talhe, transubstanciavam-se e desciam para o mar redimidos, em forma de canoa. Não são de dar sombras, mas, nos terreiros varridos das casinhas de pau a pique, são como guardiões, além de dar às crianças caiçaras as flechas para a confecção das arapucas e gaiolas. O guapuruvu integra a vida e a história caiçara.

Parabéns ao Julinho Mendes, à Associação Amigos do Museu Caiçara, juntamente com o grupo cultural O Guaruçá pela homenagem ao tricentenário da figueira da rua Cunhambebe. E, antes de botar o ponto final, peço a quem encontrar o Lacy, lembra-lo, em meu nome, da muda de cambucazeiro que ele me prometeu há uns trinta anos e que estou a esperar até hoje. Pelo tempo, já deve estar dando frutos.


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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