Ubatuba não tem participado do Circuito Cultural Paulista. Julinho Mendes não gostou e esperneou, aqui n’O Guaruçá: "Por que Ubatuba não está fazendo parte do Circuito Cultural Paulista 2010? A pergunta seria difícil se fosse para responderem também por que Ubatuba não participou em anos anteriores..." Julinho Mendes, montado em seu Rocinante, digo, Boi de Conchas, armado até os dentes, investe contra os insensíveis e indiferentes, os inimigos da cultura. Valerá a pena, Julinho? Lembre-se do ditado: Santo de casa não faz milagres. Eu pendurei a chuteira. Cansei de dar murros em ponta de faca. Veja você, nessa questão cultural, o sintomático caso da nossa biblioteca pública, que já foi considerada umas das melhores bibliotecas do interior paulista, a que se reduziu: quase despejada, é hoje uma albergada de um memorial político de péssimo gosto, que ninguém freqüenta e que deve tão somente agradar o ego dos que estão lá retratados. Não vale a pena, Julinho. Passe o bastão para as novas gerações. Se é que elas estão preocupadas. O grande Miguel Reale acerta na mosca: "Quando o indivíduo se eleva culturalmente, eleva também a sociedade civil." A nossa, gosta de permanecer ao rés do chão. Acho que já escrevi aqui n’O Guaruçá sobre o conúbio turismo-cultura. É uma tendência do mercado que por aqui não se enxerga, Julinho. Natureza, homem e cultura - sem esses três componentes não há turismo. "O turismo mundial - dito por um técnico do IBAM - vem mudando seu foco das atividades de sol e mar para os panoramas culturais, os marcos históricos, os monumentos, os fazeres e os saberes locais". Enquanto isso não acontece nestas plagas, ficamos com o turista pão-com-marba e a ver navios. Ah, sabe quem enxerga essa tendência do mercado? Os escoteiros de Ubatuba! Sim, meu caro, pois não é que os seguidores de Baden Powell (não, não é o violinista e compositor), estão desenvolvendo um projeto, que merece o nosso aplauso e incentivo, chamado "Mapeando a História" e que tem o objetivo de... divulgar Ubatuba! Veja você como são as coisas. Não conheço em detalhes, mas deve ser trabalho voluntário, como é característico dessa instituição. Pode ser até que seja algo modesto, talvez voltado mais para a educação, mas é exemplo que ilumina o contexto de indiferença da nossa claudicante política econômica divorciada da nossa mórbida política cultural. Será que esse projeto dos escoteiros recebeu algum subsídio daqueles que são os maiores interessados no incremento do turismo no município? Não, não adianta espernear, Julinho. Fiquemos com nossas precipitações pluviométricas, com os pães-com-marba e, fora das temporadas, a ver navios.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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