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COLUNISTA
Eduardo Souza
20/05/2010 - 10h00
O gato do Julinho e outras histórias pertinentes
 
 

Não poderia ficar calado depois de ver a foto do gato do Julinho Mendes aqui no O Guaruçá. Pouca gente sabe, mas esse gato andou uns tempos desaparecido. O Julinho até ofereceu recompensa a quem o encontrasse. O gato extraviou-se no dia em que o meu amigo levou ao pé da letra e resolveu aplicar o ditado: quem não tem cão, caça com gato. Levou o miau para pegar sapinhanguá. No caminho, pela areia da praia, o Julinho distanciou-se demais e o gato, entretido em correr atrás de um guaruçá, embrenhou-se numa moita de jundu e sumiu. O Julinho passou dias e noites sem dormir devido ao remorso. Um gato especial, adestrado pelo Belinho, um gênio ubatubano, famoso por adestrar tatus para a execução de buracos para sapatas de alicerces de prédios.

O pobre do bichano passou meses comendo sabem o quê? Sim, guaruçás, batuíras e corruptos. Sapinhanguá ele não gosta muito de caçar porque ficou traumatizado, sem contar o fato de que gato não entra em água fria. Ainda mais salgada e com ondas. O negócio dele é só na areia da praia. A foto que vocês poderão ver aqui não foi tirada no dia em que esse adestrado animal teve seu reencontro com o dono, festejado ao som de ratambufe, rabeca e tarol, não, a foto é do dia em que, levado pelo Julinho para desenterrar batuíras e corruptos para servirem de isca para pescar pampo, o infeliz do gato recebeu a notícia de que o Timão viu o sonho da Libertadores ser deglutido pelo Vagner Love. Sim, um gato corintiano, como se vê pela pelagem. Já sugeriram ao Julinho pinta-lo com listras pretas, brancas e vermelhas para que o bichano tenha mais sorte na vida. Mas o Julinho ficou brabo. Disse que o gato dele não é nenhum bambi.

Essas histórias espetaculares de bichos espetaculares são típicas de ubatubanos ainda mais espetaculares. Lembro-me da cadela do falecido e saudoso amigo Dito Santos, de quando ele, ainda jovem, morava na Ilha Anchieta, no tempo do funesto presídio. O Dito treinara a cadela desde pequenina a buscar, no mar, gravetos que ele jogava para além da arrebentação. Quando a dita cadela do Dito se tornou adulta, ele teve uma idéia brilhante, coisa também típica de ubatubanos brilhantes. Num dia em que houve um cerco de tainhas perto da praia, o Dito atirou um graveto no meio do cerco. A cadela, vupt... arrojou-se ao mar e foi nadando para o meio do cerco, para o meio do cardume de tainhas. Não encontrando o graveto, com engenhoso instinto, como sói acontecer com engenhosas cadelas ubatubanas, abocanhou uma tainha (e soube escolher uma ovada!) e a trouxe até a praia e a depositou na areia aos pés do Dito. Em seguida, o meu falecido amigo, atirou novamente outro graveto. Outra tainha aos seus pés. E outra e mais outra e as tainhas foram se amontoando na praia e a cadela só parou porque acabaram os gravetos nas redondezas. A partir desse dia, não precisava nem do cerco, bastava o cardume se aproximar da praia e lá estava o Dito com sua famosa e adestrada cadela na pesca das tainhas atirando gravetos ao mar.

Resolvi escrever este texto não só porque vi a foto do gato do Julinho, mas também porque assisti ao Globo Repórter da semana passada sobre bichos inteligentes e sensíveis. Há outras histórias fantásticas de bichos ubatubanos sensíveis e inteligentes e muito mais fantásticos do que se possa imaginar. Como a história que a Fátima Souza contou sobre a galinha que foi comendo, foi comendo, foi comendo uma raiz de mandioca na praia do Prumirim e, quando já estava bicando perto do caule, percebeu que estava na ilha do Prumirim!


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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