JCM

O título acima é de uma crônica que li sobre um aspecto que foi ouvido e depois observado pelo autor, em Ubatuba. Tal crônica é parte integrante da revista da Academia Paulista de Letras, páginas 171, 172, 173 e 174 – Crônicas de Ubatuba, que embora, na cópia que recebi não destaca o nome do autor, foi me dito que é de autoria de Leão Machado, e pesquisando sobre esse personagem (Ah, internet!) descobri que se trata de um diplomata paulistano que morou em Ubatuba entre meados das décadas de 1950 e 1960 e que ocupava cadeira na referida academia, faleceu em 1976, com setenta e dois anos de idade.

Achei a crônica interessante e para conhecimento de nossos leitores, estou aguardando autorização da família e ou da Academia para publicá-la aqui n’O Guaruçá. Enquanto isso, sob meu ponto de vista, vou falando do que eu entendi do artigo, e logicamente tiro de meu subconsciente lembranças do que enfatiza a crônica.

Ubatubância é um neologismo, que se faz entender, exemplo de coisas “interessantes e inexplicáveis” de comportamento de pessoas e da própria natureza que acontece aqui em Ubatuba, ou que não acontece, ou ainda se acontece, acontece muito calmamente, devagar, preguiçosa, ao sabor das ondas, do luar... parecendo ter sido Ubatuba inspiração de Martinho da Vila em sua música que fala “é devagar é devagar / devagarinho”.

Esses aspectos, não sei se só acontece aqui em Ubatuba, provavelmente acontece na Vila Izabel, na Bahia, na Bósnia... mas aqui, acredito que a coisa é mais intensa, principalmente nas coisas de ordem pública. Obra pública, então, nem se fala! Quando terminam de fazer um lado, já estragou onde começaram. Exemplos não faltam! Aquele pedacinho de remendo no mosaico português frente ao aeroporto é servicinho pra dois três dias, mas já vai fazer um mês que estão lidando com aquilo. E o esqueleto? Enquanto uma mãe baleia leva 11 meses para gerar uma baleinha por completa, aqui desde quando começaram falar sobre a montagem do esqueleto da nossa baleia, já vai pra quase dois anos e ainda estão fazendo próteses do osso parietal da cabeça da bicha, ortodontia inferior, recauchutando o esfenóide com espuma de poliuretano, e algo mais, pra depois sim colocarem no pedestal armado no local. Vai longe, e com certeza vão inaugurar em vésperas de campanha eleitoral de candidato da turma do prefeito.

E por falar em política, a ubatubância nessa área é mais relevante ainda. Vamos lembrar algumas? Diversas foram as reclamações contra a Santa Casa de Ubatuba, criam CPI para investigar as causas, para que o povo tivesse melhor atendimento, tratamento, melhores exames... vem um vereador, entra com liminar contra a CPI e não se fala mais nisso e ficou tudo na mesmice, ou quase, pois agora jogaram a cruz nas costas da Cruz Vermelha, que com certeza, nessa ubatubância vai virar cruz rosinha. E deu impregnância da tal ubatubância na cabeça de outro vereador, o nobre edil tá parecendo querer registrar-se no Guinness World Records como sendo o maior doador de moções do mundo. Vejam só que “politicasso” exemplo ubatubânciado pelo nobre: deu moção pra quem ainda nem mostrou trabalho! É fantástico, ou melhor é “ubatubástico”! Vai gostar de dar moções assim, lá em Laos!

E na política nacional os oposicionistas de Lula e da presidenciável Dilma Roussef, estão se vacinando contra a ubatubância, pois se adquirirem tal comodismo, vem Dilma, volta Lula, entra Mercadante, retorna Lula, presidência-se Zé Dirceu, outra vez Lula e em 2034 teremos Genuíno como presidente do Brasil.

E se por aqui a oposição está de ubatubância, a situação aplica a ubatubância, ainda mais depois que descobriram que pintar poste de azul é mais fácil e vistoso do que elaborar e executar um decente projeto de pavimentação e infra-estrutura nos bairros. Salve a ubatubância!

Lembrei das mangueiras que aqui têm preguiça de dar manga. Lembrei da bala de canhão no tiro do Zé Mapiá que em vez de sair voando, saiu correndo pelo cano e caiu meio metro na frente. Lembrei do cachorro do Milton Bacurau que deixou de correr uma bela de uma paca pra pegar bicho preguiça. Lembrei do curió do Donizete que segundo famoso maestro disse que o passarinho canta só em ré menor. Tudo isso é ubatubância!

Uma coisa eu confesso: Como é gostoso ficar de ubatubância! E quem não gosta? Com certeza, o leitor d’O Guaruçá também vai lembrar e passar a observar essas coisas de ubatubância. Será que nosso recém-ingresso na tribo dos Bebe já tem em seu novo lar praiano o sentimento da ubatubância?

- Fala, Elciobebe!

Disso tudo uma coisa é certa, o emprego do neologismo ubatubância é mais bonito, mais romântico, poético, positivo... generaliza a coisa e quebra aquele pejorativo de dizer que “caiçara é vagabundo”. Exorciza a praga de Cunhambebe. E nos dá um aspecto de povo calmo, tranqüilo e feliz, igual ao que se fala do brasileiro baiano.

Ubatuba é cidade paraíso, e paraíso que se preze, come-se a maçã de qualquer jeito, e logicamente, bem devagarinho.

Viva a u-b-a-t-u-b-â-n-c-i-a!

Ah! E se estão curiosos em saber onde fica Laos, é lá pras bandas de onde ficava a Conchichina.