Cada vez mais acredito menos seja possível vida civilizada em cidades com mais de 20 mil habitantes e clima com temperatura superior a 25 graus centígrados. Acho que já li algo semelhante escrito pelo saudoso Paulo Francis. Só que ele, se não me engano, se referia, quanto ao clima, a temperaturas abaixo dos 20 graus. Penso que 25 tá de bom tamanho, não é tão impeditiva às atividades do espírito. O que pega mesmo é a densidade demográfica. Quanto mais gente, maior a proliferação da idiotia.

Saudades daqueles tempos civilizados da minha Ubatuba... "Vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio (...) devemos ter uns para os outros uma amabilidade de viagem". Quem diz isso é o Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego. Nos dias atuais, se fosse usar da alegoria do navio para falar de Ubatuba, diria que estamos à bordo de um Titanic sem o mínimo de amabilidade entre os que estão a bordo. Só a tripulação e o comandante acreditam que estão no rumo certo, que o navio chegará a seu destino.

Saudades da minha velha Ubatuba, uma singela canoa de voga, acostumada às marés, às mudanças do tempo, de navegação costeira, segura. Cheia de hospitalidade, de gente cordial a bordo. Seus passageiros sempre sonhando com uma embarcação maior, mais confortável, embora navegassem naquela frágil canoa com alegria e esperança, apesar das adversidades nas travessias.

Ubatuba com mais de 80 mil habitantes. Valha-me Deus! Não estávamos preparados para isso. Caos? Estamos perto. Se houver uma retomada de investimentos no município decorrente das atividades relacionadas à exploração de gás na plataforma marinha - nas proximidades de nossa área de recreio e lazer -, que afetará todo o Litoral Norte, será inevitável uma nova onda de migrantes em busca de "um lugar ao sol" e de fazer pic-nic em nossas sombras tão escassas. Antevejo um Hades à beira-mar. Tem solução? Acho que sim. É a longo prazo e deve começar pelo lado de dentro de cada um de nós.