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COLUNISTA
Eduardo Souza
08/03/2004 - 15h23
O Guaruçá
 
 

Eis que surge o Guaruçá. Sai inteiro da toca para a glória na Internet. Cai na rede, não a do pescador, mas a da Web. Uma rede que também aprisiona. Ficamos nela emalhados, e haja conta telefônica!

O guaruçá, meu amigo, não, não a revista que estamos estreando, mas o caranguejo que habita a areia de nossas praias, é o exemplo da esperteza. E o nosso caiçara, se tivesse olhos para ver, tê-lo-ia emulado, e hoje, quem sabe, continuaria com sua cultura, com sua comunidade em suas propriedades à beira-mar.

O guaruçá, o caranguejo, apesar das pinças ameaçadoras, é um animalzinho frágil; mas não pense você que é fácil capturá-lo. Conheço uma técnica que aprendi com o Toninho Xerife. Não, não pretendo ensiná-la a ninguém. Vai que extinguem a espécie, que façam com o coitado o mesmo que fazem com o corrupto?! Sim, porque o guaruçá é isca de primeira para pesca de arremesso na praia ou, de vara, na costeira.

É cismado e enxerga longe o danado. Quando ele está para sair da toca, primeiro vemos despontar os olhinhos inquietos, que ficam esticados acima da carapaça. Observa bem o terreno e, aos pouquinhos, uma perninha aqui, outra ali, vai saindo, devagarzinho, cautelosamente. De repente, ei-lo por inteiro na praia, fora de seu domicílio.

Quando parado confunde-se com a areia. Se avista algo nas proximidades, os olhinhos ficam estendidos acima da cabeça, como dois periscópios, e rodopiam perscrutando em todas as direções a planície arenosa que o cerca. Repentinamente, estacam, concentram-se no tal objeto. Aí o bichinho parece refletir, medir a distância, as possibilidades. Será comida? Um peixe? Vivo ou morto? Puxa, como é grande! Um banquete, uma dádiva dos deuses? Não, não deve ser gaivota. Essas esfomeadas não sossegam, e aquela coisa não se mexe há algum tempo... Hum... Avancemos mais um bocadinho. Esmola quando é demais o santo desconfia!

Ah, se todos os caiçaras ao longo de sua conturbada história fizessem isso! O guaruçá, por questões de sobrevivência, é craque nessas deduções. Aproxima-se mais um pouquinho. Para. Espera. A coisa não se mexe. Chega mais perto. Estende uma das patinhas dianteiras e apalpa levemente. Ufa! Era só um pedaço de tábua de alguma embarcação naufragada que o mar devolveu à terra. Não, não era comida, infelizmente. Mas nem tudo que reluz é ouro, e um guaruçá prevenido vale por dois. E tem outra, macaco, digo, guaruçá velho não mete a mão, digo, a pinça em cumbuca.

Assim como o nosso crustáceo decápode braquiúro, vulgo guaruçá, o caiçara também vivia nessa faixa indefinida, que ninguém sabe ao certo se é onde termina o mar e começa a terra ou o contrário. Possuiu a terra como possuiu o mar: sem limites de cercas e sem escritura lavrada em cartório. Muitas de suas casas eram erguidas diretamente no solo arenoso, de pau-a-pique, cobertas com sapé, que lhe dava guarida, mas não foi suficiente para protegê-lo do mal, que se esconde em tocas mais profundas. Não teve olhos suficientes para ver e prever. E dos pés descalços nos caminhos de areia, poucos rastros permaneceram. As ondas da modernidade os dissiparam. Já quanto ao guaruçá, este continua em nossas praias, com aquele ar de nobreza crustácea, senhor das planícies praianas.


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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