Julinho Mendes

Tinha eu, em minha pequena biblioteca, um exemplar do Livro “Ubatuba - Lendas & outras estórias”, de Washington de Oliveira (seu Filhinho); presenteei o livro a um professor da USP, pensando em comprar outro, mas não encontrei mais nas poucas livrarias de Ubatuba.

Acho que a Fundart, a Secretaria de Educação e a Secretaria de Turismo podiam muito bem promover, não só a reedição do “Ubatuba - Lendas & outras estórias”, como também editar e promover novos autores da cidade, mas... Quem sabe agora com a chegada da Cruz Vermelha, sobra algum dinheirinho pra cultura.

Falando em turismo, lembrei-me de uma das histórias contidas no livro “O pára-quedista”, que fala de um aventureiro que apareceu por essas terras de Coaquira. Tinha traços orientais e assim que desceu da jardineira, no Largo do Comércio, foi direto pro Hotel Fellipe. Pelo tamanho da mala, coisa rara em um japonês, foi alvo de grande admiração da população caiçara...

No outro dia, em tudo quanto era parede de esquina, poste e tronco de árvore, a cidade acordou panfletada com o anúncio de que o tal japonês iria pular de pára-quedas da torre da Igreja Matriz...

E o dia chegou! Tarde de domingo, a Praça da Matriz estava lotada, tinha gente até na ponta do obelisco para ver o pára-quedista japonês saltar da torre da igreja. Como não havia foguete para chamar a atenção do povo, que naquela hora já estava impaciente, de repente ouve-se um estridente grito que sai da torre da igreja: PREEEEEEEEEEEEEEEEEGA FOGO!!! Todo mundo já sabia de quem era o grito; o silêncio foi total, e eis que surge o tal oriental, inclusive vestido a caráter, e assim falou:

“Povo de Ubatuba! Sinto-me verdadeiramente sensibilizado com a atenção dispensada ao meu convite, comparecendo aqui para assistir a demonstração de minha coragem, saltando desta torre. Quero esclarecer, porém, que não há nisso nenhum motivo de admiração, porque um pára-quedas bem inflado garante perfeitamente a vida de qualquer pessoa. Mas mais surpreendente é a ação benéfica das Pílulas de Vida Dr. Ross que, pequeninas, fazem milagre, garantindo o perfeito funcionamento do fígado e dos intestinos das multidões! Não se preocupem vocês, portanto com a salvação de um homem saltando em pára-quedas, mas salvem-se todos com as pequeninas Pílulas de Vida Dr. Ross!”

Concluindo seu discurso, o corajoso japonês, jogou lá de cima um pára-quedinha de saco plástico, trazendo pendurado um vidrinho das milagrosas Pílulas de Vida Dr. Ross.

Mais de duzentas crianças rolaram no chão pra pegar o belo pára-quedinha, a poeira levantou uns três metros de altura, mas o pior aconteceu na entrada da igreja, que se não fosse a casa de Deus a caiçarada esfolaria o japonês vivo; o cara teve que ficar três dias e três noites dormindo com o sino na torre.

Dois anos antes de vovô Lindolfo morrer, perguntei a ele da veracidade do fato, e por incrível que pareça, vovô não só confirmou como até me disse o nome do aventureiro pára-quedista japonês, chamava-se Nãokaya.

Pergunto o seguinte ao meu amigo para assuntos genealógicos, o “Eduardo que é Souza, mas não é César”: Poderá existir algum descendente dos Nãokaya, nas antigas terras de Coaquira? A pergunta se faz necessária, pois ando em desarranjo intestinal devido o abuso no escardado de gonguito e preciso das pílulas do Dr. Ross.