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É como se você estivesse num deserto, caminhando entre ruínas e, de repente, se deparasse com uma frondosa árvore de sombras acolhedoras. Foi a comparação que me ocorreu logo em seguida ao meu encontro com uma pessoa que reputo ser referência moral urbi et orbi.

Foi numa destas manhãs ensolaradas de outono, uma terça-feira, na rua Cunhambebe. Desci da bicicleta para cumprimentá-lo. Ele vinha caminhando pela calçada com o mesmo porte elegante de sempre, a mesma postura dos tempos em que fomos vereadores nesta terrinha tamoia. Depois de cumprimentá-lo, enfatizei-lhe a aparência saudável. Afável, respondeu-me, sorrindo, serenamente: "Já passei dos noventa, Eduardo". Trocamos mais algumas cordialidades e nos despedimos. Ele se foi e eu fiquei restaurado, com a alma lavada, quarada, enxuta e passada.

No meio deste deserto de virtudes e de ruínas morais, encontrar-me por acaso com o Antonio da Rocha Prado, o seu Pradinho, é um refrigério para a alma. É um remanescente daqueles jacarandás morais quase extintos. Seu Pradinho, de família tradicional ubatubana, foi comerciante durante muitos anos. A Sorveteria Rocha ficou na história de Ubatuba. Elegeu-se vereador várias vezes. Católico, humilde, baixinho em estatura e gigante em dignidade, em generosidade e em cordialidade - um exemplo de vida. Pena que Ubatuba seja cega e desmemoriada e viva a desperdiçar e a desvalorizar moções e homenagens com ilustres insignificantes. "A autoridade é antes de tudo uma força moral", dizia João XXIII - Seu Pradinho poderia servir de paradigma para muita gente nos dias de hoje no universo político. Mas, infelizmente, a Ubatuba “pão com Marba”, como diz o Luiz Moura, e para não dizer outra coisa, edifica-se na prevaricação e na infâmia.

Nota da Redação: Em razão do falecimento do sr. Antonio da Rocha Prado, o seu Pradinho, ocorrido hoje, republicamos esta matéria a pedido do ex-prefeito Celso Teixeira Leite.