Luiz Moura | |
Seu pai era um belíssimo canal construído em concreto usinado. Sua mãe era uma formosa canaleta estruturada em aço legítimo. Seu sonho era ser, no mínimo, uma sarjeta. Mas não deu sorte na vida, o destino fez com que se tornasse um pequeno rego atravessado. Triste destino! Se fosse uma sarjeta estaria em paralela e protegida por uma guia de concreto e seria bela e longitudinalmente elegante. As águas pluviais que sobre si passassem, correriam livremente, lavando e sempre deixando-a limpa e cheirosa. Mas o destino não quis e fez com que nascesse “rego”. Cruel destino! Se o destino quis assim, fazer o que? Tinha que se conformar! Pelo menos se fosse um rego bonito, largo, profundo... tudo bem! Mas não. Era um rego feio, estreito, raso e mal-acabado. Foi construído com massa de cimento fraca, na verdade, mais areia do que cimento, sem projeto e sem nivelamento. Deu no que deu! Depois de “pronto”, não agüentou o peso do primeiro veículo, e a cada veículo que passava por cima do rego, coitado, foi comprovando sua fraqueza. Esfarelou-se todo! O rego rachou, entupiu, ficou feio e definhou-se. E sabe o que foi que o rego disse antes de morrer? - Na próxima encarnação, se for pra nascer rego novamente, que pelo menos não seja um rego feito pela “administração do resgate”! O rego morreu. Morreu e foi pro céu, e logicamente “puto da vida”. Chegando lá, bravo do jeito que tava bateu em meia dúzia de anjos, xingou Santo Antonio e quis sair na porrada com São Benedito. - Rego perigoso esse! - Falaram os conselheiros do céu. - Vamos castigá-lo. E assim fizeram os guardiões do céu. Em reunião que durou sete dias e sete noites, a sentença foi dada: Ressurreição ao rego! Mandaram o rego de volta... E o castigo foi cruel. Coitado do rego! Caiu novamente nas mãos da “administração do resgate”. Infeliz rego! Reconstruíram o rego, e devido sua periculosidade, prenderam-no numa gradinha de ferro. Vamos ver até quando a gradinha de ferro vai agüentar prender o ressuscitado rego? A “turma do resgate” não tem noção da força que tem um rego furioso. E para encerrar o assunto do rego, vale lembrar o ditado popular: “Em terra de cego quem tem um rego é rei e quem tem dois é político”. Só não vê obra malfeita quem não quer ou quem tem o rego preso. E para quem é chegado num rego, vale também o ditado: “Mais vale um rego na mão do que dois voando”. Viva o rego!
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