Tevê à manivela
Depois que o saudoso Nelson Rodrigues (“O anjo maldito”) deixou para a posteridade a frase “Pouco amor não é amor”, está aí a prova da mais nova versão do sempre triângulo amoroso na novela do Manoel Carlos, e que realmente dizem da vida imitar a arte. Em qual ordem não importa, talvez mesmo em vias de tornarem cada enredo algo assim de uma cama para três. Diga-se lá, “Viver a Vida”. Tal como ela é? Ou basta dar-se por conta de que ela – muitas vezes – é daquela que também imita outras muitas artes com certeza. Agora, de alguém ir pra cama com o irmão gêmeo da alcunha Miguel (o gêmeo, o clone, o “nêuro” da armada), sem dar conta do que queria encontrar, veja lá que também a famosa desculpa do “não é nada disso o que você está pensando” nunca cai em desuso. Santa malvadeza e o que planejam mais! Portanto, e como já taxaram por aí, “se Adelita com outro se fuera”... A divisão de bens em certos setores anda por demais aonde querem chegar. Claro, como a distraída e mimada top model Luciana não podia ter percebido que era o Miguel – justamente o Miguel que, idem, não podia ter percebido o quarto em que dormia e que o irmão poderia se conformar com a nada planejada troca de identidade dentro da própria casa... Onde come um, comem dois, é? E depois argumentam patavinas da não cobiça pelo que é alheio e do que sempre anda encostado próximo do olho grande, do tipo gordo, que nem pastor pode tirar. Aliás, nesse caso pode, ops! Fraqueza da carne? Ora, não vamos entrar outra vez em detalhes na tal da novela da minha vida, como da minha vida que se tornou uma novela. Sem repeteco, please! Principalmente quanto a mensagem do que querem levar adiante, como em dar o exemplo, seguir o bichinho, igual aquele que anda crescendo na NET, por enquanto um inofensivo pint... Nada muda? Ou que da mais alta fidelidade tão achegada a riqueza sempre fala mais alto?, que tudo valha sempre mesmo como lição da incontinência, e não sou apenas eu que anda falando. E como acham que está tudo bonitinho, então, vou logo tratar de engolir mais esse novo filão, na seca; vou preencher uma ficha no Projac pra tentar fazer uma ponta pelo menos num daqueles blocos do povo que concorda com tudo, balança a cabeça, sorri – junto! –, como manda o figurino. E roer as unhas por que, se ainda tenho o recurso das cutículas! Afinal, Jorge (o outro gêmeo, o clone, “arquiteto”, rígido), ainda na pele de recém traído, também é um brasileiro, merece mais que bons conselhos. Foi só uma brincadeirinha, um erro de pontaria, um lençol vazio, um beijo roubado! Não é nada disso, no capítulo seguinte tudo vai ser diferente. Deixe fluir os fluídos. Zen. “Ah!, Paris, a internacional Helena (que não é de Tróia), o abonado e sortudo Marcos; Búzios, o oásis perdido, a novela mal está começando”... Então, hora de malhar, refletir, comer pelas beiradas, encontrar os pobres pombinhos, casais (des)apaixonados. Ora, se não caiu a ficha é porque não quis, e não engasguei aqui coisíssima nenhuma. Quem viver – a “Vida” – logo verá muito mais do que outros honrosos reféns adeptos do (con)curso de telelágrimas, sem perder um único plantão! Mais que a vida, é a arte; mais que no mundo das artes, do faz de conta, do amor pelo que é do próximo, e sempre no impossível – afora os espinhos – também vale o teste do múltipla escolha, o revés, a moeda. Em se tratando de Jorge, um brasileiro... Vai que resolvam colocar trigêmeos na parada, como diria a Madonna, “Hey, you!”. De repente, até o acúmulo de adereços no alto da cabeça venha a aumentar, sem que os papéis nunca mudem. Ademã e de leve, que a receita é básica: senta que é só mais uma humilde e afortunada ficção global, mas que você não precisa decorar tim tim por tim nem praticar na casa da Mariazinha. Por trás dos bastidores, Chapinha, grosso modo, tudo vem ao acaso das meras coincidências. Qualquer semelhança (na praxe da retundância) com personagens rotineiros, do João sem braço, daquele que comeu e não gostou... Não se culpem por nenhum tipo de novas estranhezas com a vida real, nem como ela é, pois, o que não é duro é bem fácil da gente engolir, certo? – Gravando!
Nota do Editor: Celso Fernandes (modarougebatom.blog.terra.com.br), jornalista, poeta e escritor, autor de “As duas faces de Laura”, “O Sedutor”, “Sonho de Poeta” (Ed. Edicon), entre outros. Colunista de Moda, Cultura & TV, escreve semanalmente em jornais, revistas e sites relacionados às áreas.
|