Julinho Mendes | |
Se você quer aprender como se faz o azul marinho, pegue a panela de ferro, põe lenha pra acender; no fogão de tacuruba* é mais fácil de fazer. Garoupa cortada em postas, também serve piragica ou sororoca (só para rimar), mas uma cavala, anchova, tainha gorda, não se deve desprezar. Passe sal, pelo menos uma hora antes. Deixe a betrecha* pra mim, que eu vou comer no fim e depois vou puxar uma tarimba*. Vamos ao ingrediente: salsinha, coentro miúdo, tomate e pimenta de cheiro. Farinha caiçara e banana verde (São Tomé, nanica e se tiver a grumixé*, melhor ainda). Três dentes de alho, cebola, sal e óleo e também o limão, com certeza o caldo vai ficar azul. Oba! Agora veja o modo de fazer: doure a cebola e o alho, refogue o tomate cortado, coloque na água fervendo a banana pra amaciar, tampe a panela pra abafar, me traga uma pinga e vamos esperar. Vai prestando a atenção! Depois que a banana estiver amolecida, junte o peixe, o coentro, o cheiro e prepare o pirão; jogue o caldo na farinha, põe pimenta pra arder, esprema bastante limão e coma o azul marinho com satisfação. Oba! Outra pinga, por favor. Com moderação! Bom apetite! Vale aqui lembrar a lenda: “Se uma mulher engravidar após ter apreciado o azul marinho, com certeza o filho terá olhos azuis”. Do caiçarês:
Tacuruba - fogão a lenha feito com três pedras soltas onde se assenta a panela. Tarimba - estrado de madeira, cama de dormir do caiçara antigo. Betrecha - guelra, gorgomilo e barrigada de peixe. Grumixé - espécie de banana.
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