- O Fidel caiu! O Fidel caiu! - Como, onde, quando? - Acabou de passar a reportagem. Pisou em falso, estatelou-se, caiu de cara no chão, respondeu-me a patroa que assistia o noticiário na tv. - Foi numa cerimônia de formatura, continuou ela, depois de mais um daqueles intermináveis e soporíferos discursos com que ele sempre brinda os camaradas prisioneiros da ilha. Pisou em falso e caiu com a cara marxista-leninista no chão. - Droga! Pensei que era outro tipo de queda. Não foi dessa vez. Mas o dia não tarda. Acho que esse sujeito já morreu e puseram no lugar dele um robô. Sim, um robô, com tecnologia russo-nipônica e o corpo feito por artistas do museu de cera Madame Tussaud de Londres. Enquanto o partido não decide quem vai assumir a direção da ilha-presídio, usam esse robô. Caiu, quebrou, mas eles já consertaram e logo, logo voltará aos discursos. São antigos discursos que foram selecionados, gravados e programados para o robô veicular conforme o tipo de evento. Em todos eles o EUA é sempre o bode expiatório, o único responsável pela miséria do povo socialista. O povo cubano, dizem, é muito parecido com o povo brasileiro, pelo menos no que diz respeito à obstinada esperança no Estado como promotor do progresso, da tal justiça social e da igualdade tão sonhada pela nossa intelligentsia em fase de adolescência mental. - Ah, deu também que aquele publicitário, o que elegeu o presidente, foi preso em flagrante ao participar de uma rinha! - Quem, o Duda Mendonça? Ah, aí tem... - Cê acha que... - Sim, aí tem coisa... E isso é um sinal, minha filha, é feitiço de encruzilhada, e não é coisa do George Bush não, como poderão pensar os jornalistas da Globo. Para mim, é Nêmesis, mexendo os pauzinhos. Mistério...
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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