Setembro. Esperança. O casal de canário-da-terra cuida do ninho, no alto do poste na entrada de um prédio, perto de casa. O canário macho, expectante com a ninhada, esmera-se nos trinados. Sinto vontade de ouvir Pavarotti, na La Boehme, de Puccini: Che cosa faccio? scrivo. E come vivo? Vivo. Na rua, as mulheres multicoloridas, nesse tênue estio matutino mostram as pernas, passeiam sorrisos promissores e esperançosos pelas calçadas. O dia amanheceu tão eloquentemente azul que até dispersou algumas nuvens chuvisqueiras da minha alma. É a primavera chegando.

A meteorologia diz que está previsto céu nublado e chuva para o fim de semana. Não importa. O que importa é o hic et nunc, é esta manhã de céu azul, ensolarado, promissora. Vou à Internet navegar. Esperava encontrar mares de bonança, mas me deparei com notícias dos nossos governantes petistas.

Deparei-me com aquela cara de comandante do Titanic do nosso grande e querido apedeuta ao lado daquela senhora com cara de Emília do Monteiro Lobato. A Dilma, a ira em peçonha - si antes la sangre le hervia, hoy com más fuerza le hierve. Depois, fico sabendo que Marina Silva, a guardiã das florestas, aquela com voz de taquara rachada, mulier dolorosa, do tipo que foi abandonada ou enganada porque o companheiro não agüentava mais ouvi-la imitar a Dalva de Oliveira na beira do tanque de lavar roupas, saiu do PT.

Perguntaram-lhe se a crise moral que se abateu sobre o partido durante o governo Lula pesou na decisão de ela deixar o PT. Respondeu: "Minha decisão não foi motivada pelos tropeços morais do partido, mesmo porque eles foram cometidos por uma minoria. Saí do PT, repito, por falta de atenção ao tema da sustentabilidade". A minoria a que ela se refere são os maiorais do partido. Ano que vem tem eleições. É oportuno lembrar o provérbio, que dizem ser turco: "Quando o machado entrou na floresta, as árvores disseram: O cabo é dos nossos!"

Mas nem tudo está perdido. É setembro, a primavera vem aí, renovam-se as esperanças. Leio no blog do Noblat que "Hiroshi Yamao, de 36 anos, e sua esposa Kyoko, de 33, são os melhores bailarinos de tango de salão do mundo", que "após uma seleção que envolveu 300 casais, eles levaram para casa um título inédito. São os primeiros campeões não argentinos nesta categoria que é chamada também de tango social (o tango dançado nos bailes, sem acrobacias). É mais ou menos como se as japonesas derrotassem as mulatas do Rio de Janeiro no quesito samba no pé, em pleno Sambódromo". Torço para que um dia os argentinos dêem certo.

Desconecto-me. Volto a olhar pela janela o céu azul magnífico. Estamos em setembro. Aproxima-se a primavera. Guirlandas de flores. Boas novas... Primavera consagrada a Hermes, o Mensageiro, ou Mercúrio, que rege o signo de Virgem. Enquanto a água não nos bate na bunda para que aprendamos a nadar, como diria o professor Grilo, caminhemos, e o melhor caminho ainda é o de Damasco.