Julinho Mendes | |
Aconteceu mais uma Caiçarada - V Festival de Cultura Popular de Ubatuba. Vou aqui parabenizar e também “desparabenizar”. Parabenizar pelo esforço de seus organizadores em nos proporcionar um pouco de cultura, entretenimento e alegria. De tentar intercambiar informações e conhecimentos. De tentar mostrar aos turistas e locais um tiquinho do que temos aqui. Sabemos que não é fácil promover um evento cultural diante do estado mórbido em que se encontra a educação e a cultura na atual geração de jovens. Não é fácil enfrentar a estupidez e a inutilidade de um reality show (cultura da ignorância e desinformação) apresentado pelas TVs brasileiras, e sem contar ainda com a desaprovação de certas instituições religiosas a respeito do folclore, das lendas e dos costumes populares. Somado a isso, agora “desparabenizando” (se é que existe a palavra), observa-se a inércia de nossos diretores culturais, secretários e assessores educacionais e secretários e dirigentes ligados ao turismo em não promoverem discussões, projetos e execuções, sobre a questão cultural da cidade. Como resgatar, como ensinar, como promover, como valorizar, como “sustentabilizar” a cultura local e como transformar um jovem estudante em artista (músico, ator, cantor, cenógrafo, locutor...)??? Em que ações resultaram ou resultarão a Semana da Educação que tivemos aqui em Ubatuba, mês passado? Sei que foi gasto muito e muito dinheiro! Falo isso porque é vergonhoso ver um município como Ubatuba, com tantas histórias, tantas lendas, músicas, danças, e não termos nos dias da Caiçarada um grupo sequer de jovens estudantes de nossas escolas, de nossas associações de bairros, de nossas entidades filantrópicas, de nossas igrejas... se apresentando e dando orgulho para a cidade, no referido “festival de cultura popular”. É lamentável! Foi vergonhoso! Senhor presidente da Fundart, senhor secretário de Turismo, senhor secretário de Educação, senhores vereadores, senhor prefeito. Foi e lamentável a atuação de Ubatuba no V Festival de Cultura Popular – Caiçarada, em nossa própria terra. Não tivemos uma representação escolar da cidade. Não tivemos a dança da fita, não tivemos congada, não tivemos a tradicional dança do boi, não tivemos xiba, não tivemos culinária, artesanato. Cadê os grandes grupos de capoeira de Ubatuba? Cadê as academias de danças? Cadê os índios guaranis com suas canções? Foram convidados os cirandeiros de Paraty, os congadeiros de São Sebastião, o reisado e a cavalhada de São Luiz, os fandangueiros de Iguape e Cananéia? Que festa popular foi essa? Não me lembro de ter visto um vereador, o secretário de Educação, o secretário de Turismo, o presidente da ACIU, passando por lá para dar um apoio. Tá falido! Tá tudo à míngua minha gente! Lembram do tal RESGATE? Tudo balela! Me desculpem senhores, não estou falando como político partidário e muito menos como inimigo ou opositor político (coisa que nem isso atualmente temos nessa cidade), estou falando como caiçara, cidadão que tem orgulho dessa terra, estou falando como educador, como cristão que não vive enfiado em igreja e que sabe que a coisa tá feia em termos culturais e sociais em nossa terra. A criminalidade, a droga e a falta do que fazer entre os jovens está aumentando; e de seminário de educação, de passeios ao exterior, de falar bonito nas rádios e jornais, nada se vê de ação em prol dessa geração que está crescendo sem conhecimento das raízes, dos seus valores, de seus potenciais, sem perspectivas profissionais. É senhores, quero eu estar errado, mas a política de vocês está equivocada! A política de vocês não está servindo pra quase nada! Vocês não poderão falar que levaram e deram a essa geração jovem que está crescendo, a cultura de nossa terra! Não! É só apadrinhamentos, zona azul, moções, orelhões, luminárias... Fala sério hem! Espero que não fiquem bravos comigo, e sim que entendam as minhas palavras. Espero que haja uma transformação nessa morbidez e que no próximo Festival de Cultura Popular de minha cidade, grupos de jovens estudantes de nossas escolas (municipal e estadual) participam da festa: dançando debaixo do boi, rodando fita, batendo bastões na congada, tamanqueando xiba, cirandando, contando causos, sorrindo... e alguns dizendo: - A beleza da arte me tirou das drogas! E outros ainda falando: - Sou profissional da arte graças ao que me transmitiram sobre a cultura de minha terra! Ééééé! Jesus quer que marchemos para uma educação de qualidade. Jesus quer que marchemos contra a corrupção e bandalheira. Enfim. Quero observar que a imagem ilustrada acima é de um grupo de alunos de uma escola de São Sebastião, dirigida pelo professor João, encenando o boi-bumbá. O único grupo de jovens estudantes a se apresentar na caiçarada.
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