Corria os anos setenta. Muitos amavam os Beatles e o Rolling Stones. Outros muitos eram apenas rapazes latinos americanos. E o mundo, nunca mais seria o mesmo. Esta semana, em reportagem no Fantástico, o país inteiro ficou sabendo do desaparecimento do cantor e compositor cearense Belchior, que juntamente com seus companheiros Fagner e Ednardo aportaram aqui no início dos anos setenta, para cumprirem a sina da maioria de seus conterrâneos... Tentar a sorte no sul maravilha. Quando Belchior, pela primeira vez, abriu sua boca com sua voz rouca, soltando os versos da canção Apenas um rapaz latino americano, teve a imediata identificação de toda uma geração de jovens, que como ele, também não tinha dinheiro no banco e nem parentes importantes. Eram jovens que, sobretudo, tentavam ser felizes e lutavam para entender as agruras de seu tempo. Belchior, diferentemente da maioria de nordestinos que aportam por aqui... Veio, viu e venceu. Dono de um estilo único, e legítimo representante dos poetas, compositores e cantadores populares, Belchior, impressiona com o estilo simples e direto de seus versos, elegendo a simplicidade como força motor de seu arsenal criativo, e dando o merecido desprezo a aqueles que do alto de um grão de areia lhe torcem o nariz. Como Stephen Fry, ator inglês eternizado pela canção de Zeca baleiro, que após estréia de peça teatral foi bombardeado pela crítica e resolveu sumir sem revelar seu paradeiro, Belchior agora, também sai de cena, deixando para trás algumas contas não pagas e uma legião de admiradores inconformados pelo seu desaparecimento. A verdade é que este cearense de Sobral andava desaparecido da mídia há algum tempo. Seus trabalhos em disco se tornaram raros, como são raros os lançamentos com alguma qualidade na MPB atual. Sua última aparição em público foi no começo deste ano, em um show de Tom Zé, em Brasília. Descoberto na platéia subiu ao palco e foi reverenciado pelo artista baiano que foi para a platéia aplaudi-lo. (Registrado no YouTube.) De lá para cá, nem mais um pio. Já foi dito que ele estaria em vários lugares e vivendo de diferentes maneiras. E até já foi oferecido uma caixa de cerveja para quem o encontrar. Piadas a parte, o fato é que nos dias atuais, em que celebridades são criadas da noite para o dia e sensacionalismo é produto valioso no mercado atual, por ironia, o sumiço do cantor o joga novamente diante dos holofotes da mídia, faminta por acontecimentos que alimentem sua fome de ibope. Pena que seja assim, que assim seja... Copacabana, esta semana, o mar sou eu.
Nota do Editor: Alex Frederick Cortez Costa (fredcortez@uol.com.br) reside em Ubatuba desde 1996.
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