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COLUNISTA
Eduardo Souza
21/08/2009 - 07h52
O Julinho e o dilúvio de Ubatuba
 
 

O Julinho Mendes disse aqui nesta revista que ele não viu, mas ouviu dizer que o mar banhava o pé da serra. Pois eu também não vi, Julinho, mas o Marino Fonseca e o Toninho Guimarães juram de pés juntos que viram. Esses dois têm histórias! Lembra do bar-armazém do Toniquinho, lá no alto da serra? Lá onde paravam os ônibus da Atlântico pro povo mijar? Pois é, os dois me disseram que lá era cabine para os banhistas daqueles tempos. Na verdade, me afirmaram que houve um dilúvio nestas plagas e só depois de 40 dias e 40 noites é que a arca em que estavam abrigados as famílias caiçaras que tinham um pouco de vergonha na cara e que foram escolhidas para perpetuarem a espécie nativa pousou em cima do morro Curuçá, o morro da prainha do Matarazzo. O Toninho me disse que não sabe ao certo se foi alguém da família dele ou se foi o Zé Capão ou o João Glorioso quem teve a brilhante idéia de soltar uma gaivota para ver se as águas haviam baixado. Depois, cismaram de enviar um macuco, que morreu afogado, logo depois de ter sido jogado pela janela da arca. Quem resolveu a situação foi o Chiquinho Corruíra, que enviou uma juriti. Essas coisas não são do meu tempo, mas ponho fé no que dizem os dois amigos e conterrâneos.

Diz ainda o Julinho que o mar voltará ao pé da serra. Pois tenha certeza disso, meu caro. O dilúvio é cíclico e sempre ocorre quando o volume da lama das safadezas e da devassidão se acumula e eleva as águas.

E, quer saber? Não esquenta a cabeça com esse negócio de salvar as amendoeiras do super-herói. Eu, fosse o amigo, começava juntar madeira. Cedro, guapuruvu, cacheta, bambu, embaubeira... tudo o que for bom de boiar. Fale com o Silistro para usar o estaleiro dele e construa logo uma bateira ou um bote razoável. Tenho comigo que, em breve, Vargem Grande, São Luiz do Paraitinga, Catuçaba e adjacências serão balneários. A lama está se acumulando em ritmo vertiginoso!...

Ah, e, para finalizar, já que você contou que cresceu debaixo de uma amendoeira, o Marino me disse que ele e o Wladimir, quando tudo aqui embaixo era mar e os dois ainda meninos, chegaram a pescar garoupa de linhada daquela pedra que fica lá no topo do morro do Corcovado.


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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