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COLUNISTA
Eduardo Souza
17/08/2009 - 06h00
Gripe espanhola, suína, H1N1
 
 

Não bastasse estarmos submetidos a essas bactérias da política nacional que refocilam e prosperam na lama que elas mesmas produzem em quantidade dantes jamais vistas neste país; não bastasse a epidemia do dengue que recentemente nos aterrorizou, agora ressurge das cinzas em que hibernava desde a primavera de 1918 o vírus da gripe espanhola, gripe suína, H1N1 ou como o queiram chamá-lo.

Outro dia, peguei na estante aqui de casa o livro "Breve história de quase tudo", do Bill Bryson, Companhia das Letra, 6ª edição, para reler o capítulo em que o autor fala do "Mundo pequeno", do microcosmo. Transcrevo aqui, pois O Guaruçá também é cultura, alguns trechos bem interessantes e oportunos. Vamos lá.

"...Nós, as coisas grandes, não passamos de um acaso feliz - um ramo lateral interessante. Das 23 divisões principais da vida, somente três - plantas, animais e fungos - são grandes o suficiente para serem vistas pelo olho humano, e mesmo elas contêm espécies que são microscópicas (...) Menores e mais simples que as bactérias, os vírus por si mesmos não estão vivos. Isoladamente, são inertes e inofensivos. Mas introduzidos no hospedeiro adequado, entram em atividade - ganham vida. Conhecem-se cerca de 5 mil tipos de vírus, e eles nos afligem com centenas de doenças, variando da gripe e do resfriado comum às mais hostis ao bem-estar humano: varíola, raiva, febre amarela, Ebola, pólio e aids. Os vírus prosperam seqüestrando o material genético de uma célula viva e usando-o para produzir mais vírus. Eles se reproduzem de maneira fanática, depois irrompem em busca de novas células para invadir. Não sendo por si mesmos organismos vivos, podem se dar ao luxo de ser muito simples. Muitos, inclusive o HIV, possuem dez genes ou menos, enquanto até a bactéria mais simples requer vários milhares. (...) Eles também têm a capacidade irritante de irromper no mundo de alguma forma nova e surpreendente e depois desaparecer tão rapidamente quanto surgiram. Em 1916, em um desses casos, pessoas na Europa e na América foram acometidas de uma estranha doença do sono, que se tornou conhecida como encefalite letárgica. As vítimas iam dormir e então não acordavam (...) Umas poucas sobreviveram e recobraram a consciência, mas não a animação anterior. Elas viveram em apatia profunda, como ’vulcões extintos’, nas palavras de um médico. Em dez anos a doença matou cerca de 5 milhões de pessoas e depois tranquilamente sumiu. Não atraiu muita atenção porque naquele meio-tempo uma epidemia ainda pior - na verdade a pior da história - varreu o mundo. Ela é chamada ora de gripe suína ora de gripe espanhola, mas qualquer que seja o nome, foi devastadora. (...) A gripe espanhola surgiu como uma gripe normal, não letal, na primavera de 1918, porém, nos meses seguintes - ninguém sabe como ou onde - sofreu uma mutação para algo bem mais grave. Um quinto das vítimas apresentava apenas sintomas brandos, mas o resto adoeceu gravemente, muitas vezes morrendo. Alguns sucumbiam em horas; outros resistiam por alguns dias. (...) Desconhece-se o número global de vítimas, dado que os registros no Terceiro Mundo eram muitas vezes incompletos, contudo não foi inferior a 20 milhões e provavelmente aproximou-se dos 50 milhões." (grifos meus)

Durma com um barulho desses. Comparável ao estrago desse vírus da gripe espanhola só as vítimas das revoluções socialistas no século XX, em nome de uma utopia estúpida. A sensação é de terror, de impotência. Fiquei sabendo que, em Ubatuba, também estaria ocorrendo óbitos devido à ação desse vírus. Será verdade? Quantos casos? Não estaríamos tendo informações dos órgãos públicos responsáveis, como ocorreu no início da epidemia de dengue, que tivemos não faz muito tempo, porque é de interesse público impedir que se divulgue? Seria inoportuno? Procura-se com isso evitar um mal maior? É bom sempre lembrar que os gestores públicos devem se pautar pelos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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