Depois de todas aquelas lambanças portuguesas dentro do presídio, mas ainda dentro do presídio, finalmente num galpão a meia luz, a indialhada encontra os saudosos irmãos portugueses: João e João. Eles estavam desconsolados da vida, trocando acusações e reclamando um com o outro: - João, você viu a encrenca em que nos metemos? - Pois é, João! Eu não tenho culpa. A culpa é do jacu e do gambá, que você fez questão de trazer! - Éééé João, eu quis trazer uma prova de nossa descoberta e pensava que seríamos condecorados. - Mas a culpa é sua que diante da rainha falou aquele palavrão. - Eu falei JABUNDA e não JACU. - Mas você podia inventar outro nome mais bonito, como CUJA ou DABUNJA, por exemplo. - Pois é! Eu estava nervoso., mas eu acho que quem nos colocou aqui não foi o meu jacu e sim o seu gambá fedorento. - Pode ser, porque eu fiquei com raiva e soltei o gambá no meio da corte e ainda apertei a barriga dele para feder ainda mais. Os dois estavam de costas e ainda não observaram que estavam sendo ouvidos. E continuaram na conversa: - Sabe, João! Eu acho que o rei Bigode não foi assim tão mau com a gente. - É verdade, João, nós é que estamos gordos e pesados demais... - Ééé!!! Se fossemos leves, no mesmo dia tínhamos trocado as oito lâmpadas do presídio e já estaríamos fora há exatamente um ano, dois meses e cinco dias... Acho que precisamos fazer um rigoroso regime, senão, não iremos conseguir trocar as lâmpadas... Foi justamente esse relato dos irmãos que intrigou os Bebuns, e fizeram-se revelar. Dudubebe, de brincadeira, pega o gambá que ainda estava grudado no rabo do jegue e joga no meio dos dois irmãos... Foi um grito só. O susto foi tão grande, que um João subiu a escada com o outro João nas costas. Fui um susto, mas também uma grande surpresa para os portugueses; estavam lá, diante de seus olhos, os irmãos Bebuns, o jacu e o gambá, além é lógico do jegue que de pronto estava a lamber os saudosos conterrâneos, numa alegria que dava gosto de ver; parecia cachorro perdido. Realmente foi, para todos, uma emoção muito grande, não faltaram lágrimas... Um carcereiro chegou assustado com o coral dos choros, pensando que morrera alguém... - Qual o motivo dessa choradeira toda? - Estamos felizes! - Ah, bom! Se estivessem tristes, então, não sei o que seria! - saiu chorando também o carcereiro. Abraçados, apertados e já matada a saudade, os personagens relatam os feitos de mais de ano... A curiosidade tomava conta dos silvícolas em torno da condenação dos portugueses que, de imediato, um dos João passou e relatar: - Pois é, amigos! Depois de toda bagunça que se formou na corte, o rei Bigode mandou prender a gente, e decretou a nossa pena: “Trocar as oito lâmpadas queimadas existentes no presídio”. - Só isso? Mas por que tanta demora assim meus amigos? - perguntou Silvimbebe. João, com ar de desânimo, responde: - Ora porque! Porque nós estamos muito gordos e quando eu subo na escada o João não agüenta girar a escada para enroscar a lâmpada no soquete, e a mesma coisa acontece quando meu irmão sobe na escada, eu não agüento girar a escada!!! - Mas graças a Deus que vocês apareceram com o jeguinho, agora eu acho que vai dar; iremos colocar a escada no lombo do bicho e o fazer girar; esse bicho tem uma força danada! - resolveu o problema, o outro João, cidadão penitenciário. Ouvindo essa declaração, o jegue se jogou no chão e parecendo que alguém lhe fazia cócegas começou a dar risadas, ou melhor, a relinchar, incessantemente. Não só o jegue, como também todos os silvícolas riram. Esses riram duplamente. Como todos riram os irmãos Cabral também, inclusive o jacu e o gambá. Foi uma farra, parecia rodinha de amigos contando piadas de português... Resolvido o problema das lâmpadas, os irmãos Cabral foram libertados... Na saída do presídio os irmãos Cabral encontram suas famílias: - Oh Meria, que saudade! - Oh João, que saudade! O caminhão que carregava a bandinha parou em frente ao presídio e pôs-se a tocar. João falou: - Oh Meria! Não precisava contratar uma banda musical para nos receber! - Deixe de ser lerdo, João, não tá vendo que é o caminhão de gás que toca musiquinha?! É a banda d’O Guaruçá. - Ehhhh Meria, tava me esquecendo! A outra Maria, do outro João, vendo aquela turma atrás dos maridos, pergunta: - Quem é essa gente aí, João? - Ah Meria, tava me esquecendo. Esses são meus amigos lá da terra verde que nós descobrimos. eles vieram nos visitar e acabaram nos libertando... Graças à Deus! Apresentados e reapresentados, foram todos comemorar... Num grande banquete em comemoração à liberdade dos irmãos Cabral e à despedida dos irmãos Bebuns, a bacalhoada com batata comeu solto noite adentro... Dudubebe se engraçou com uma viúva bonitona que lhe cantou fado a noite toda. Era justamente uma das tias dos João, chamada de Izabézinha Cabral, que mexeu com o coração do sorrisinho indígena. O cheiro do bacalhau de Izabézinha conquistou o coração de Dudubebe que não queira mais voltar para a terra natal. Reunidos, os irmãos Bebuns resolveram montar uma CPI para desvendar o porque que Dudubebe gostou tanto do fado de Izabézinha. Será que foi por causa do fado mesmo? Houve imediata votação e a CPI foi aprovada por sete votos a favor, mas sabendo que esta CPI ia dar rolo, e dos grandes, para seu padrinho Dudubebe, Amerimbebe entrou com liminar para cancelar a CPI, porque senão quem ficaria preso seria Dudubebe. Tinham que voltar. Ao alvorecer arriaram canoa n’água e zarparam carregados de bacalhau, azeite de oliva e vinho do Porto. Dudubebe abusou do vinho. Trêbado seguiu viagem agarrado numa banda de bacalhau e dizendo, já com sotaque português: - Oh Izabézinha, o cherinho de teu baquelheu é uma deliça... Fica aqui uma pergunta: Por que o afilhado, Amerimbebe, entrou com liminar contra a CPI do fado de Izabézinha e de seu padrinho Dudubebe? Cá pra nós: “Se a CPI acontecesse, Dudubebe estava FADIDO!”
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