- Oi compadre, tudo bem?

- Tudo bem nada, compadre!

- O que foi compadre?

- Ah compadre, com o dinheiro que eu tava guardando para pagar a penúltima prestação da bicicleta terei que pagar a Taxa de Bombeiro, que me mandaram pelo correio; e a bicicleta compadre, até já me roubaram! Não sei o que faço compadre! Tá difícil a coisa pro meu lado. Trabalho, trabalho, trabalho e vivo pagando imposto pra esse bando de sei lá o que, que não serve nem para elaborar um plano de segurança para dar fim a ladrão de bicicletas!

- É compadre, na Prefeitura tem gente saindo pelo ladrão! Então eles inventam impostos pra gente pagar que é para pagar essa gente que sai pelo ladrão; e quanto mais imposto eles cobram, mais gente eles colocam, e daqui há pouco nem ladrão vai ter pra essa gente sair!

- Ah é compadre? Pelo menos se não tiver ladrão a coisa melhora, aí não vamos precisar gastar dinheiro com compra de bicicleta, e aí vai dar pra pagar essa absurda Taxa de Bombeiro. Compadre, me diga uma coisa: se o senhor fosse prefeito ou vereador, o que o senhor faria para acabar com o roubo de bicicleta no centro da cidade?

- Ah, compadre, quem dera se eu fosse dessa selecionada espécie! Quem dera! Mas se fosse, compadre, certamente pegaria o vírus da “sardinha”.

- Que é isso compadre, que vírus é esse que nunca ouvi falar?

- Cê nunca ouviu falar compadre? É o vírus de quem tem uma sardinha e puxa a brasa pra assar a dele primeiro! Então compadre, eu criaria uma zona!

- É compadre, mais uma? Mas que tipo de zona compadre?

- Zona bike! Uma zona para cobrar Taxa de Ciclista. Veja, compadre, quanto dinheiro eu ia ganhar! Tem bicicleta saindo pelo ladrão e ladrão saindo de bicicleta! Eu ia acabar com essa bagunça de bicicleta amontoada no calçadão, em frente de banco, supermercado, lojas... Com o dinheiro eu organizava estacionamentos com segurança e contratava agentes vigilantes para por fim a essa farra de roubo de bicicleta, e ainda compadre, como o senhor sabe, minha reeleição estaria garantida só com voto de empregado e de seus familiares. No começo o povo ia chiar, vão dizer que é inconstitucional e coisa e tal, mas depois, como cordeirinhos, vão se acostumando e acabam se esquecendo. Taí vários exemplos! O povo chia, chia, chia, mas depois vota nos mesmos. O povo pensa que voto e eleição são festas!

- Éééé compadre, o senhor tem razão! Lá no Congresso Federal é um escândalo atrás do outro, e nós aqui pagando e assistindo tudo isso de braços cruzados. Não há santo que acabe com aquilo!

- Éééé compadre, o povo brasileiro é que nem cordeirinho e é por isso que esses caras fazem essa farra toda, porque sabem que tem gente ignorante que vota neles de novo.

- Mas mudando de assunto, compadre; o senhor vai na igreja hoje?

- Não vô compadre, sem bicicleta e sem dinheiro, vô rezar em casa mesmo!

- Tá bom então compadre, eu vou rezar para que sua bicicleta seja devorvida. Batarde compadre.

- Batarde, vá com Deus compadre, e reze pra que acabe essa bandalheira entre políticos safados que infestam esse Brasil!