Esta semana, em um site de Ubatuba, acompanhei uma discussão entre jovens, alguns deles músicos, em que até meu nome foi citado, sobre qual banda era melhor, quem tocava melhor etc. A discussão gerou alguns comentários agressivos e sem respeito por parte de alguns mais exaltados. Após ler as mais diferentes opiniões, fiquei me perguntando: eles estão falando de música, arte, ou de algum tipo de competição esportiva? É até comum quando começamos a tocar algum instrumento que tenhamos o desejo de ser bons, tocar tão bem quanto nossos ídolos etc. Para isso não medimos esforços, dedicando horas de estudo e aprendizado. Mas algumas perguntas, que todos os que desejam tocar algum instrumento deveriam se fazer, iniciantes ou não, é: O que é tocar bem? e, principalmente: Qual o sentido da música? Após 18 anos dedicados à música e à guitarra, olho para trás e vejo que me dediquei a isso porque foi a maneira que encontrei para expressar minhas idéias e sentimentos. A maneira pela qual me senti bem para "dizer" o que "penso e sinto" às pessoas. Esse é o verdadeiro sentido da música: Transmitir sentimentos, pensamentos, experiências, enfim, comunicar-se. Quem é melhor, quando falamos de sentimento? Pode haver um? O que toca o coração e a alma de um indivíduo, não toca a do outro, não por ser melhor ou pior, mas sim por uma questão de afinidade, sintonia. Bom músico é aquele que toca com o coração, com a alma, não importando o seu nível técnico, e sim a mensagem que ele passa. Enquanto escrevo estas linhas, ouço um mestre da guitarra chamado Eric Clapton. Ele não é rápido e suas músicas não são complexas como o motor de um Formula 1, mas a beleza, o bom gosto, a elegância e o sentimento (alguns chamam de feeling, outros de vibe) que ele consegue passar em suas músicas, com sua guitarra, é algo assombroso, chega a dar arrepios! E vou confidenciar a vocês: quando, há 18 anos, comecei a tocar guitarra, eu não era tão fã do Clapton quanto hoje. Por quê? Porque eu não estava sintonizado na mensagem, na vibração dele. Era adolescente, queria era um som "porrada", enérgico, agressivo. Existe uma frase de Joe Satriani (outro gênio da guitarra) que diz: "Quando somos jovens, vemos tudo pelo prisma do rock, da distorção e do "guitar hero", somente quando envelhecemos é que começamos a perceber outros caminhos como o blues e o jazz", e eu acrescentaria - o chorinho, a bossa-nova, o maracatu e os sons regionais. Ou seja, amadurecemos fisicamente, mentalmente e espiritualmente e passamos a sintonizar outras vibrações! E nem por isso deixamos de curtir o bom e velho rock and roll! Alguns podem não gostar de fulano ou de beltrano, não porque o cara não seja bom, mas porque não estão sintonizados na "vibe", na mensagem dele. E isso é natural. O que não podemos é diminuir a arte, o talento de quem quer que seja, simplesmente porque não "curtimos". Experimente tocar colocando todo o seu coração e sua alma no seu som, seja que estilo for, sem se preocupar em "mostrar serviço", e você verá quantas pessoas serão tocadas pela sua mensagem! E para elas você será um excelente músico, porque conseguiu emociona-las, toca-las de alguma forma. Mantenha a mente e o coração abertos, somente assim a "sua verdade" poderá transparecer aos outros! Na próxima matéria vou dar uns toques de pré-produção e produção às bandas que estão pensando em gravar um cd. Saudações sonoras!
Nota do Editor: Pedro Carpinetti nascido em Ubatuba (SP) é professor de música e guitarrista. Mantém o blog Diário de um Tamoio.
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