O jovem Antonio mal tinha acabado de completar 11 primaveras quando, assistindo televisão em sua casa, viu uma banda tocando. A música o empolgou tanto que ele ficou fascinado com aqueles músicos tocando os instrumentos, e decidiu aprender a tocar. Falou com sua mãe, disse-lhe que queria aprender a tocar um instrumento. A mãe o apoiou e foi à procura de um curso. Não foi difícil encontrar, pois a cidade estava “entupida” de cursos. Tinha curso de tudo o que se pode imaginar. E lá foi Antonio para seu curso de música aprender a tocar. Começou pelo violão, mas logo descobriu que bateria era seu negócio. Antonio foi descobrindo que aquele era o seu “negócio”, que era aquilo que ele queria fazer pelo resto de sua vida. Logo encontrou amigos de escola que também estavam aprendendo a tocar e formou sua primeira banda. Os integrantes da banda se dedicavam com afinco nos ensaios e sonhavam com o dia em que se apresentariam ao vivo. Alguns anos se passaram, e Antonio e sua banda já estavam prontos para encarar o palco. Decidiram que era hora de mostrar a cara. Mas havia um problema! Na cidade não havia onde tocar! Não havia nenhum bar com música ao vivo, pois o xerife daquela pequena e pacata cidade do litoral americano – ou será litoral latino americano? –, bem, não sei ao certo, mas, continuando, o xerife havia proibido música ao vivo. Decidiram então procurar o órgão responsável pelos eventos da cidade. Imploraram por uma apresentação. Não iriam nem mesmo cobrar cachê. Queriam apenas mostrar as composições que haviam feito, mas ouviram do (ir)responsável diretor do órgão: – Mas vocês não são bons! Não são profissionais! A banda que vem de Cafundó do Judas City é muito melhor e para ela eu pago o quanto for! Saíram, Antonio e seus companheiros de banda, desolados, andando pela cidade. Estavam vendo seus sonhos serem mortos pela ignorância, pelo orgulho e pela falta de boa vontade de certas pessoas. Eles insistiram mais algumas vezes até que a força e a determinação foram-se esvaindo. A banda se desfez! O vocalista arrumou emprego numa pizzaria, o baixista foi fazer tosa em cachorros, o guitarrista montou uma barraca de cachorro quente e Antonio (o baterista) virou ogã de um terreiro de candomblé. Jurou para si mesmo que iria bater tambor e fazer macumba até os últimos dias de sua vida para ver aqueles infelizes de mente pobre e estúpida, que haviam ceifados seus sonhos, sofrerem bastante. Antonio poderia ser um baterista de sucesso e renome internacional, mas seu sonho e suas esperanças foram decapitados por mentes diabólicas que só pensam em si mesmas e que estão pouco se lixando para os outros. Mas, pelo menos, ele tornou-se o melhor ogã de atabaque que o mundo já viu, e dizem que suas macumbas são tiro e queda!
Nota do Editor: Pedro Carpinetti nascido em Ubatuba (SP) é professor de música e guitarrista. Mantém o blog Diário de um Tamoio.
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