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COLUNISTA
Julinho Mendes
16/06/2009 - 07h02
O jacu de Dudubebe
 
 
Descobrimento do Brasil - Capítulo II

O vento leste tinha pego a embarcação de frente e a caravela voltou para Portugal de ré (coisa de português). Já não se avistava mais o continente, somente céu e mar. O jacu dormia empoleirado no alto da gávea... Jantavam no convés à luz do luar... Conversa vai, conversa vem, João 2 sente um cheiro desagradável e reclama:

- João 1, papai não falou que na mesa de jantar não é lugar de soltar pum? Se ele estivesse aqui te dava uma bofetada no pé do ouvido que você ia vê só!

- Que é isso xará, isso eu não faço, você não me conhece, rapaz?

- Pois é João, tá uma catinga desgraçada aqui!

- Vai ver que é o seu jacu!

- O meu jacu não! O meu JACU é limpinho e bem cuidado, até talco eu passo nele e, além do mais, o Dudubebe falou que ele não caga no poleiro.

- Vai ver então que é carniça que está no mar.

- Pode ser algum transbordo náutico!

A catinga continuava... A caravela navegava suavemente, sem balanço algum, pois o mar estava calmo. De repente, um balaio sai da proa e vai pra popa.

- O que é isso João?

- Oh raio, é o seu gambá que esquecemos dentro do balaio!

- Coitadinho, vamos solta-lo, já é noite.

Abriram o balaio e uma baforada de ar quente e fedida saiu de dentro dele, fazendo-os por a cabeça pra fora do convés e vomitar até o jacu fazer bico. O bicho estava morto de fome e saiu feito louco indo direto pro cacho de banana. Pegaram o lampião e foram conhecer, de perto, o presente que o índio Tupinambá, o Dudubebe, dera a João 2.

- Que bicho feio é esse João?

- Não sei João, se fosse feio só não era nada, pior é a catinga!

- Joga isso no mar, rapaz!

- Não, de jeito nenhum! Foi presente de Dudubebe e tenho que leva-lo para Portugal, pois são as únicas provas que temos da terra que descobrimos: o jacu e o gambá.

- Esse gambá foi sacanagem daquele filho da mãe do Dudubebe, tinha tanto bicho bonito lá, o cara foi dar um gambá fedorento! Sacanagem! Quando voltar irei esfregar o bacalhau da minha mulher na cara dele pra ele ver só o que é bom!

Passaram a noite com duas rolhas enfiadas no nariz... No outro dia, João 2 amanhece com o gambá no colo dando banho de água do mar e esfregando caroço de manga para ver se aquela catinga saia... Não adiantou. Pescaram então um gudião, o chamado peixe sabonete. Esfregaram a escama do gudião no couro do gambá e aí a coisa piorou. Misturou cheiro de peixe com catinga de gambá. Tudo que tentavam era em vão, não adiantava, a catinga vinha de dentro do bicho. O céu ficou preto e o mar escureceu. Era urubu e peixe-porco que rodeavam a caravela, por causa do gambá. Foi um deus-nos-acuda até chegarem em Portugal...

Foram dados como mortos. Já tinham feito missa de sétimo dias e de mês. A cidade já tinha esquecido dos irmãos Cabral. Apenas Maria Cabral 1 e Maria Cabral 2, tinham ainda alguma esperança de que seus maridos voltariam. Toda tarde iam para a beira do cais e não tiravam os olhos do horizonte... Certo dia, então, aconteceu o inesperado:

- Maria, o que é aquilo, lá no horizonte? - perguntou a mulher de João 1.

- Parece um bando de urubus, Maria! - respondeu a mulher de João 2.

- Coisa estranha.

- É mesmo, é um bando de urubus.

A coisa se aproximava, e cada vez mais se distinguia. A urubuzada era tanta que uma parte do mar parecia noite. Foi chegando, foi chegando, até que Maria 1 reconheceu a caravela de seu esposo João 1.

- São eles, são eles!!! - gritaram as mulheres.

Sem saber nadar, jogaram-se no mar de tanta alegria... O povo inteiro esperava a atracagem... O foguetório comeu solto, não para saudarem os navegantes, e sim para espantar a urubuzada.

A embarcação chegou do mesmo jeito que saíra da terra descoberta, ou seja, de ré (coisa de português).

- Socooooooorro! Socooooooooorro! Socoooooooooooooooorro!!!!

Vendo as esposas se afogando, os irmãos João se jogam no mar... Aperto na barriga e respiração boca-a-boca, salvaram as esposas, que não sabiam nadar (coisa de português).

- Foi emoção, João, foi emoção!!!

- Foi saudade, João, foi a saudade!!! - desculparam-se as esposas.

O povo fechou em volta para saudar os navegantes. Perguntas e mais perguntas enchiam o ar de interrogações e curiosidades.

Acalmados os bafafás, João 2 toma a frente e declara:

- Irmãos portugueses, descobrimos uma nova terra! Uma terra que tem bumbum de fora pra chuchu!

Essa declaração causou um grande reboliço em Portugal e vai parar nos ouvidos do rei que, chamando os dois navegadores na corte real, ordena explicações...

Do lado de dentro da corte, além do rei e da rainha, estavam presentes os mais diversos seguimentos da nobreza portuguesa (todos puxa-sacos). Do lado de fora, uma grande bicha (fila) dava volta no quarteirão. Um zunzunzum danado tomava conta do palácio... Um sino com dois badalos tilinta no salão... O silêncio se faz presente... Apresentavam-se os irmãos gêmeos navegantes, João 1 e João 2.

João 1 vinha com uma coisa estranha grudada nos ombros e João 2 com um balaio nos braços. Eram as provas vivas vindas da terra descoberta. O rei levanta, e com voz áspera exige explicações dos navegantes:

- Que brincadeira é essa que vocês espalharam, em todo Portugal, de terem descoberto uma nova terra, senhores Cabral?

- Sua Majestade, esse fato não é brincadeira e tão-pouco mentira. Nós descobrimos uma nova terra sim, uma terra verde! - respondeu um dos João.

- E que terra é essa?

- É uma terra encantada, coberta de florestas, muito bonita e de muitas riquezas, habitada por um povo muito diferente de nós. Tem lá um chefe pancudo, de sorrizinho conquistador, e que vive cercado de súditos; esse tal ficou com meu Jeguinho, tem o nome de Dudubebe e é pai de sete filhos: Cunhambebe, Silvinhobebe, Adilsonbebe, Ameribebe, Bitenbebe, Felipebebe e Julinhobebe. Todos vivem peladões, dormem em cama de pau duro, moram em ocas e sobrevivem da selva!

A corte toda estava em silêncio, boquiaberta, ouvindo o relato dos Cabral com muita atenção e admiração...

- Aonde estão as provas de toda essa fábula? - pergunta a rainha com ar de desconfiança e é aplaudida pelos puxa-sacos do rei.

(Aliás, puxa-sacos não é só em Portugal, Ubatuba tá cheio deles. Um dia, numa reunião com o prefeito, um puxa-saco saiu dizendo: “Olha meu querido prefeito, caso o senhor dê um espirro na minha ausência, quero, desde já, te desejar saúde! Saúde prefeito! E foi embora.” Mas vamos voltar a Portugal.)

O zunzunzum novamente toma conta do palácio. O rei levanta, puxa a calça para cima, dá aquela famosa coçadinha no vão da bunda e pede as provas:

- Mostrem as provas, senhores Cabral!

Um João olha para o outro e simultaneamente pensam: “Agora estamos ferrados!”

Enquanto a corte silencia, João 1 cochicha com João 2:

- E agora João, como é que eu vou falar o nome do JACU para o rei, diante da rainha? Esse nome é um palavrão muito feio, poderá ofender a corte.

- Éééé João, você tem razão, e a hora que eu abrir o balaio, vai ser um corre-corre danado.

- Mostrem as provas! - ordena nervosamente o rei.

João 1 desencapuza a grande ave, dá uma viradinha de lado e mostra o seu jacu para o rei e toda corte.

A rainha, muito curiosa, pergunta:

- Sr. João 1, que pássaro é esse? (Novamente os puxa-sacos aplaudem a rainha.)

João fica branco, vermelho e transparente de vergonha em pronunciar a palavra JACU, achando que iria ofender a rainha com um “palavrão”, mas uma luz divina ilumina sua mente e surge uma palavra que certamente é menos palavrão do que JACU. João 1, sorridente, enche o peito e solta o nome do exótico pássaro para a rainha e a toda nobreza:

- Senhora Rainha, com todo respeito vou lhe dizer: esse pássaro é um JABUNDA!

- Repita, seu João! - ordena o rei nervoso.

- JÁBUNDA, JÁ-BUN-DA, JÁJÁ-BUNBUN-DADA, JABUNDA!!! Pronto falei.

Antes tivesse falado JACU, porque foi uma gargalhada só no salão da corte.

A rainha fica com a cara parecendo uma abóbora e o rei, embravecido e também envergonhado, manda prender João 1, achando que foi um desaforo e um desrespeito.

Meia hora de puro riso... O rei consegue colocar ordem na casa e chega a vez de João 2 mostrar a sua prova. Seria a hora de vingar o irmão preso. O vingador João 2, que tinha o pé rachado, mostra sua prova...

Fazia doze horas que o gambá estava no balaio fechado, dentro de um saco plástico.

- Vocês querem ver a prova? Vou lhes mostrar?!

João 2 abre o balaio e tira o gambá, puxando o bicho pelo rabo, e ainda dá uma apertadinha na barriga do bicho.

- Este é um gambá e daqui a um minuto não vai sobrar ninguém nesse recinto.

Não deu outra, a catinga do bicho exalou pelo salão e foi um corre-corre desgraçado. Não ficou um para ouvir o resto da história; até a bicha lá de fora se dispersou...

No outro dia os gêmeos portugueses recebiam visitas na cadeia... Uma das visitas foi o primo Pedro Álvares Cabral, que ouviu toda a história da descoberta, recebeu um pequeno mapa que mostrava o caminho para chegar nesta terra, hoje chamada Brasil. Terra que desde o PAU-BRASIL nunca mais parou de ser saqueada pelos CARAS-DE-PAU. Terra de um povo bom e ordeiro; terra rica de um povo pobre que assiste todo tipo de corrupção, corrupção esta que violenta índios, brancos e negros, que violenta a sociedade. Terra de POLÍTICOS GAMBÁS QUE EMPESTEIAM O PAÍS DE FÉTIDA CORRUPÇÃO.

Me desculpem os gambás, por eu compará-los aos políticos de nosso país.

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