Não me surpreenderia se o próximo passo da Fundart fosse o de transformar o que restou da nossa gloriosa Biblioteca Municipal Atheneu Ubatubense em uma espécie de lan house. Um memorial político ao lado de uma lan house, custeados pelos cofres municipais. É o que chamaria de uma maneira brilhante de se investir em cultura.

Bem, e a nossa Biblioteca? E quem é que está interessado na leitura de livros?! Teremos lá, no memorial, a Internet! Os textos são curtinhos, enxutinhos, não cansam. A galera poderá fazer "pesquisas" sem esforço, no Google, na Wilkipédia. É só selecionar, copiar, dar uma ajeitadazinha, colar e imprimir. Pronto! O trabalho escolar prontinho como os profe gostam.

Certa ocasião, quando a Biblioteca era dirigida heroicamente pela Lúcia Muniz, ouvi de uma turista, que acabara de inspecionar o recinto e o acervo, que a nossa Biblioteca era melhor do que as que havia na região em que morava, no interior do Estado de São Paulo, e que a biblioteca da cidade dela não ficava nem aos pés da nossa. Deu-nos parabéns e se foi, deixando-me todo inchado de orgulho. E agora? Agora? Sinto-me magro e abestado.

A Biblioteca Atheneu Ubatubense, como tudo o que funciona direitinho nestas plagas, sofreu amputações. Cortaram-lhe 50% do espaço para instalar o tal memorial de personalidades políticas. Algumas delas de biografias pitorescas e insuperáveis. Mas o que diria dessa amputação, o inesquecível mecenas das artes Ciccillo Matarazzo? Tenho cá comigo que ele indicaria local mais apropriado para o memorial de prefeitos: o prédio da cadeia velha.

A Fundart insiste para que visitemos o tal memorial. Eu prefiro a biblioteca. Sempre sonhei com uma biblioteca fabulosa. A Atheneu Ubatubense chamando a atenção do mundo inteiro, um enorme atrativo turístico no meio de uma praça arborizada que, por sinal, ajudei a implantar. Mas, pelo jeito, a única coisa a fazer é tocar um tango argentino. Ou seria uruguaio?...