(Versão 2009)
Julinho Mendes | |
Era uma canoa velha feita de pau de guapuruvu, propriedade de seu Candido Mesquita. Estava eu no banco do meio, João de Souza na proa e o João Barreto, direcionando a canoa, sentava na popa. Saímos da praia da Fortaleza e fomos na Laje do Forno, na Ilha Anchieta, tentar pescar alguns sargos-de-beiço, com isca de lingüiça calabresa. Estávamos lá dando banho nas iscas de lingüiça quando, de repente, começou um ventinho quente e esquisito. João Barreto, mais que de pressa, recolheu a linha e puxou a poita. - Isso é noroeste que não tardará a vir, vamos embora companheiros! - Falou João com ar de preocupação. Num desespero danado tentamos remar até a praia de Leste da ilha... Não teve jeito, o forte noroeste nos pegou com vontade e a solução foi deitarmos no fundo para que a canoa não virasse e deixamos que o forte vento nos levasse... Três horas de vento, medo e tensão, fomos nos deparar com céu e mar, não se enxergava ilha e nem continente. Onde estávamos? O que fazer? Como voltar? Com toda sua experiência, João Barreto observou a posição do sol e o correr das nuvens e ordenou que remássemos a estibordo. - Com sorte sairemos na praia de Boiçucanga, em São Sebastião! - Falou João. Começamos então a remar incessantemente... Depois de três horas e meia, remando sem parar, aconteceu um terrível fato: - João de Souza você esta mijado? - perguntei. – Eu não, é a canoa que furou bem debaixo da minha bunda! - respondeu João todo molhado. Aí fiquei apavorado. Num lugar daqueles, sem ver terra, rodeados de tubarões e a canoa enchendo d’água: “Estamos ferrados!”, pensei. João Barreto, mais uma vez, com toda sua sabedoria com as coisas do mar, falou: - Não se preocupem companheiros. Farei um outro furo na popa da canoa. A água que entra pela proa vai sair pela popa! - Assim fez João e assim nos salvamos até chegarmos numa laje que avistamos à nossa frente. – Vamos parar naquela laje, para descansar e arrumar os furos da canoa! - falei, e os dois concordaram... Chegamos na laje... Enquanto eu e João Barreto arrumávamos os furos da canoa, João de Souza fazia uma fogueira, com lenha tirada do banco da canoa, para assar as lingüiças que trouxera. A fogueira ficou pronta e as lingüiças começavam a assar. Aí, passamos por um grande susto... De repente, com a quentura da fogueira, a “laje” se mexeu e num grande golpe nos jogou dentro da canoa e voou lingüiça pra todo lado. (Foi à sorte!) - Rema, rema, rema! ISSO NÃO É UMA LAJE, É UMA BALEIA! - falou João Barreto, num desespero que dava medo. Para complicar a situação a corda da poita enroscou na barbatana da bicha que nos arrastou. A canoa virou uma poderosa lancha de 750 HP... Em meia hora estávamos em frente à praia dos “Marbelucos” ou praia “25 de março”, a saudosa praia Grande de Ubatuba. Infelizmente a baleia morreu, não sabemos se foi de susto, infarto, ou porque engoliu a lingüiça do João. Daí para frente todo mundo sabe do trabalho que a infeliz baleia deu para a população de Ubatuba no ano de 2000. Ela “descansou” enterrada na rua marginal da praia Grande durante nove anos e, há pouco tempo, desenterraram a bicha, ou seja, tiraram seu esqueleto do local, mas até agora não se sabe o paradeiro dos restos mortais da baleia. Dizem que metade da ossada foi para o Japão e a outra metade foi quebrada em pedacinhos para servir de afiador de bico de curió e de canário belga. Dizem que, só o Donizete “Sapateiro” encomendou 50 kg de ossos da tal baleia para afiar os bicos de seus curiós! Será que “Dudu Gallo” conseguirá reinaugurar a praça Dr. Alberto Santos, que já foi Alberto Santos Dumont, com o esqueleto da baleia catarina, antes do fim de seu mandato?
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