Se há poucos otimistas nesta cidade, considero-me um deles. O Celsinho, o Celso de Almeida Jr, é outro. Um sujeito admirável. Às vezes, como eu, pega o bonde errado. Faz parte. É salutar para o crescimento pessoal. Tenho lido os textos dele no Ubatuba Víbora. Víboras são peçonhentas, mas o Celsinho não, o Celsinho destila otimismo e, quando dá suas picadas, o faz sem perder a ternura jamais. Já criticou a atual administração — com a autoridade de quem ajudou a elegê-la — por falha na condução da política governamental, pela falta de diálogo, por uma blindagem exagerada em torno do prefeito, o que o impediria de uma real leitura da situação. Disse também que os responsáveis por essa blindagem, o secretariado, estariam se aprimorando para atender melhor os anseios da sociedade. Na matéria "Alerta vermelho", assinala que já se percebe em Ubatuba o embrião de uma força oposicionista mais consistente, como prova de que quem não se comunica se estrumbica. É gravíssimo a um gestor público não ter perfeita visão das situações em que tem de atuar por causa de assessores que lhe criam a tal blindagem, impedindo-o de contatos amiúdes com os munícipes ou de uma leitura correta da realidade. Ou seja, o administrador enxerga a situação do município somente pelos olhos do assessor e, se estes olhos forem cortesãos, se forem míopes ou astigmáticos e não tiverem lentes corretoras... danou-se. Mas, graças ao bom Deus, segundo o Celsinho, os assessores já se submeteram aos exames oftalmológicos necessários à boa visão. Estão todos a usar os consistentes óculos da eficiência burocracial e política. Quanto ao embrião de uma força oposicionista mais consistente que estaria se formando, diria ao Celsinho que não há motivos para medo. Já não era sem tempo. É salutar, tanto ao processo democrático, quanto à administração pública. É fundamento da arte política. Mesmo porque, toda unanimidade é burra e desastrosa. Vide os exemplos do Herodes e do Hitler, escolhidos sem constrangimentos pela maioria dos votos. Não carece sinal vermelho, alerta máximo por haver oposição. A não ser que se esteja extrapolando os limites da legalidade, o que não acredito. Ser crítico ou estar na oposição é uma maneira de apontar erros e corrigir rumos aos gestores probos e inteligentes. É também uma maneira de intimidar aqueles com inclinações para a prevaricação, com comichões para ultrapassar os limites da lei ou malversar o dinheiro público. Como optimista que sou, acredito não ser este o nosso caso. A falta de diálogo é sintoma de amadorismo. A política é a arte do diálogo. Só os inclinados ao autoritarismo o menosprezam. Em vez da força do diálogo, empregam o diálogo da força. Aí, então, só resta o caminho das batalhas judiciais. O que não é tão ruim assim, porque também é um caminho que integra o Estado de Direito, a Democracia. É salutar para o município haver uma maioria oposicionista no poder que tem o dever constitucional de legislar e fiscalizar. E, para encerrar, faço minhas as palavras do amigo Celsinho no Ubatuba Víbora: Precisamos opinar. Agir. O compromisso com as nossas vidas e com as vidas das gerações futuras exige a participação imediata. Estar na oposição, fazer oposição, criticar aqueles que detêm mandatos eletivos é exercitar a cidadania.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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