Sempre gostei deste nome, “Pharmácia”. Grafado assim desta forma, nos remete ao tempo de nossas avós. Um tempo que enche nossa imaginação de romantismo, de lirismo e de cordialidade. Um tempo que, certamente, não volta mais. E a julgar pelas imagens da TV, a vida parecia ser ingênua e simples, como suas imagens em preto e branco... O fato é que hoje, como tudo, elas se modernizaram. Foram crescendo, crescendo se multiplicando e viraram... farmácias. Talvez seja o setor da economia que mais traduza a lei de mercado. Ou seja, quanto maior a procura, maior a necessidade... Maior o preço. Como os bancos, os serviços de telemarketing e o sac de grandes empresas, não gozam de bom conceito junto a opinião pública. Mas escrevo sobre as farmácias, não para falar exatamente sobre elas. Mas sim para algo que fica bem em frente a elas, e que por lei, todas tem direito. Os estacionamentos exclusivos. Existem as leis que pegam, as leis que não pegam, e as que são absurdas. Muitas vezes, fruto de poderosos lobbies de grandes setores industriais. Os estacionamentos exclusivos das farmácias são um deles. Talvez seja o único ramo do comércio, beneficiado por este... Vamos dizer assim... Privilégio legislativo. Compra-se quase tudo ali. Perfumes, desodorantes, alfinetes, grampos, fraudas, xampus, tintura para cabelos, sabonetes, refrigerantes, e pasmem... até remédios. Isso tudo claro, com vaga na garagem. Somando-se este privilégio, mais o talento de seus gestores, e a pouca saúde das pessoas, o setor farmacêutico prosperou e explodiu. E hoje, há uma farmácia em cada esquina. Todas claro, com seu estacionamento exclusivo. Aqui em Ubatuba, na região central da cidade, existem muitas delas. Às vezes, uma ao lado da outra. Na rua Hans Staden, por exemplo, uma das principais do centro, num quarteirão, existia até pouco tempo atrás, cinco delas. Todas, claro, com sua vaga exclusiva. Num tempo em que as vagas de estacionamento na cidade viraram um produto de mercado, possuir este serviço, de graça, em frente ao seu estabelecimento comercial, se torna realmente um grande diferencial mercadológico. As leis existem para serem cumpridas. Os políticos para decidirem sobre as necessidades das leis. E o bom senso, para nortear estas decisões. Não sei, sinceramente, quem é o autor desta lei. Nem em qual esfera ela é normatizada. Só me incomoda o fato de que por trás desta pretensa benevolência e generosidade com o consumidor, está escondido o verdadeiro e grande beneficiário da lei: a indústria farmacêutica. É ingênuo achar que perderemos vidas na falta destas vagas. Urgência é nos hospitais. Lá sim, o tempo muitas vezes é fator decisivo entre a vida e a morte. Portanto, a indústria farmacêutica aparece como a grande beneficiária desta lei, e não o pobre cidadão consumidor. Não há como negar a importância deste segmento na nossa economia. Geram empregos, geram impostos, geram riqueza. Exibem um crescimento e uma robustez invejável. Seus investimentos serão sempre bem-vindos. Portanto, nada contra. A não ser, é claro, as vagas e os preços que nos são cobrados...
Nota do Editor: Alex Frederick Cortez Costa (fredcortez@uol.com.br) reside em Ubatuba desde 1996.
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