| | | | | Festa canibal Tupinamba observada por Hans Staden. |
|
Muito interessante e bastante oportuna a divulgação, aqui na revista Guaruçá, pelo estimado amigo Herbert Marques, da obra do Hans Staden, aquele que quase foi traçado pelos nossos ancestrais ubatubanos. O enfoque do artigo do meu insigne amigo recai sobre os heróis desta terra de Cunhambebe. O tema, devo deduzir em razão da crônica anterior, é a política nativa desde os seus primórdios. Contudo, confesso que no início da minha leitura pensei se tratasse de uma espécie de gastronomia libidinosa. O que não deixa de ser também política, pois, como alardeia um mandatário do PT, neste mundo tudo é política. O Herbert tem muita coisa de interessante para contar sobre os nossos heróis e políticos comedores de gente, mesmo daqueles que dizem comer, mas na hora H inventam algum fastio ou alguma outra indisposição. E o amigo Herbert penetrou fundo nessa que considero a maior sacanagem política da nossa história. A verdade é que a mania dos nossos antepassados de comerem pessoas em praça pública, com o passar dos séculos, foi se modificando e hoje se reduz tão somente em tornar público, em alguns recintos, quem comeu quem. Penso até que o inesquecível Bar São Paulo tenha sido, em épocas mais recentes, um desses locais, que reproduziu simbolicamente aquele espaço público da primitiva aldeia em que tais práticas tornavam-se notórias. De uma coisa devo discordar do amigo Herbert, diz respeito ao fato de o Hans ter marcado sua passagem por estas plagas às custas do medo de ser papado pelos nossos avoengos. O aspecto psicológico da questão não foi abordado pelo amigo. Se ele ousasse um pouco mais, se fizesse uso do olhar perspicaz com que sempre diagnosticou as condutas humanas, veria que, neste episódio, há fortes sintomas de ressentimento e de uma enrustida homossexualidade. No fundo, no fundo ele queria mesmo era ser comido, o danadinho do alemão. Mas os nossos ancestrais não comiam qualquer coisa, não. Tinham princípios. Os jesuítas, por exemplo, mesmo com aquelas batinas, passaram incólumes. Já em épocas mais recentes, certos conterrâneos mais desavisados, usando saia, não perdoariam. Dessa comilança toda, o Herbert irá nos contar, tenho certeza, coisas do arco-da-velha de nossa história. Vai fundo, amigo Herbert.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
|