Julinho Mendes | |
Se observarmos a imagem acima veremos que o bicho tá bem vistoso, sarado e elegante em seu vestuário. Está desfrutando da beleza de uma de nossas praias, tomando o seu banhinho de sol, apreciando as urubuzinhas de fio dental, esperando um delicioso petisco de carcaça de arraia com um suculento copo de sangue de bucho de bagre e ainda vai bater um voleizinho de praia. O bicho tá no paraíso, a Capital do Surfe! Com essa história de transbordo de lixo, em nosso município, serão poucos os urubus que terão essa mordomia, pois o lixo será cada vez mais escasso e urubu que não for malandro, será urubu defunto ou se transformará em anu. O urubu da foto é, sem dúvidas, um inteligente e esperto urubu malandro; nem bem o transbordo começou o bicho já leva vantagem e já tem mordomias. Logo, logo desfrutará das praias de Miami, Hawaii, Austrália... e o que será dos outros urubus? Das duas uma: ou passarão a comer alpiste e frutas da época ou seguirão a rota do transbordo, mudando para o Vale do Paraíba! Pois é, minha gente! Por falta de um trabalho sério de conscientização (junto à população) para a separação de lixos, por falta da construção de estruturas e equipamentos para a reciclagem, por falta de quererem transformar o lixo em matéria prima e darem qualidade de vida à população local, enfim, por falta de planejamento e estratégias em relação a questão do lixo, hoje estamos pagando o alto custo do transbordo. Conforme observado num “De olho em Ubatuba”, são carretas e mais carretas que diariamente levam o lixo de Ubatuba para o Vale do Paraíba. Lá os caras foram espertos; planejaram e criaram uma indústria do lixo; ganham dinheiro, geram emprego, desenvolvem a cidade, ajudam “o social” etc. Em termos ambientais farei, com minha visão de leigo, uma análise sobre o tal transbordo: é certo que deixaremos de aumentar a produção do chorume que, segundo estudiosos locais, vinha poluindo o rio Grande de Ubatuba e atingindo a praia de Iperoig. Tenho plena certeza que o problema do chorume poderia ser resolvido copiando experiências de outras cidades e aplicando técnicas já estudadas por profissionais competentes. Venho observando que parte do chorume, agora produzido no transporte, cai dos veículos catingando o percurso do transbordo e, querendo ou não, com as chuvas, também poluem os córregos e os rios. Já o gás metano produzido pelo lixão e o dióxido de carbono pelas carretas, esses, tanto aqui como no Vale Paraíba, na Cochinchina ou na Bósnia, contribuirão, do mesmo jeito, para acelerar o aquecimento global. Sem contar os desgastes no piso asfáltico de nossas rodovias e os gasto dos pneus e peças dessas carretas... e ainda tirando trabalho de nossos sofridos contribuintes. Pergunto aos ambientalistas de plantão: “- Que vantagem Maria leva com o tal transbordo?” Melhor: “- Que vantagem o meio ambiente, o ecossistema global leva com o transbordo feito?” No meu entendimento vejo duas situações: a primeira, ecologicamente falando, estão trocando doze por meia dúzia. A segunda, politicamente falando, estão trocando meia dúzia por doze! Talvez esteja aí a vantagem que Maria leva! E podemos ter a certeza que são poucos os que estão recebendo o transbordo de asas, digo, de braços abertos; pois a cidade pagará muito caro pela falta de planejamento e projetos na coleta e reciclagem do lixo. Não faltou tempo para planejar! Ignoraram uma questão que há muito tempo vinha sendo alertada! E agora? Pagaremos o transbordo pelo resto de nossas vidas, ou procuraremos uma solução mais justa, consciente e social para solucionar a questão do nosso lixo? Será que nossos políticos realmente pensam em acabar com o transbordo?
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