Julinho Mendes | |
Vou falar de mais uma do nosso jundu: o “perrexil da praia”. Parece uma palavra francesa, pois ao pronunciá-la a gente chega até fazer biquinho. Lembrei-me do Pedro Paulo Teixeira Pinto e da saudosa madre Glória fazendo biquinhos em suas aulas, nos ensinando francês, no colégio Capitão Deolindo. Aquela turma de alunos não aguentava os tipos e caía na gargalhada. O “perrexil” é uma das espécies de gramíneas existentes no jundu, a diferença é que ela é comestível. Suas folhinhas, tanto cruas ou refogadinhas, com um leve tempero de alho e cebola, é coisa para cozinheiro francês nenhum botar defeito. Vim a conhecer esse vegetal há muito tempo, lá na casa da vovó Bertolina, quando papai nos levava para Caraguatatuba. Um dia estava aquele monte de mato num balaio de “timbopeva”, já desfolhado e lavado. Vovó ralhava da cozinha: - Crianças, não bula no perrexi que isso vai ser a verdura de vocês hoje! E na hora do almoço, então, junto com as marias-moles fritas, feijão, arroz, farinha e mais ainda um copo de limonada, o “perrexil” não dava nem pro cheiro. Um dia fomos catar “perrexil” na prainha, lá pras bandas da “Pedra da Freira”. Que me lembre, tinha umas dez crianças (primos e vizinhos). Em meia hora enchemos um balaio com a tal erva praiana. O resto da manhã foi para pegar tatuíra e tomar banho de mar. Eh tempo bom! Depois daquele tempo, coisa de três, quatro anos atrás, na praia da Maranduba, achamos uma moita grande de “perrexil”, tiramos um punhado e trouxemos. Mamãe lembrou: - Eh! Isso aí, quando criança, a gente tirava de monte na praia da frente! Na praia da frente (Cruzeiro ou Iperoig), a ervinha ainda resiste às regadas do principal produto terminal do metabolismo protéico do ser humano (turistas e locais). E olha minha gente, por ironia do destino, esse “mijódromo” em que se transformou a praia do Cruzeiro! Se alguém experimentar uma folhinha do “perrexil” vai dizer que tem gosto de mijo, pois ao ser mastigada, a folha solta um suco levemente salgado. Talvez seja o salitre do mar e não urina. Pois é, minha gente, como dizia o saudoso poeta do pé rachado, João de Souza: Esses conhecimentos, palavras e desavergonhamentos caiçaras, não se encontram em prateleiras de bibliotecas, somente aqui n’O Guaruçá e certamente engavetados em casas e em memórias de caiçaras. São coisas de caiçaras, descendentes de tupinambás, e um dia Deus vai iluminar a consciência do “poder público” para que esses conhecimentos, aqui de Ubatuba, venham a compor livros que eternizem a cultura de um povo em extinção. Ofereço esta crônica ao Dr. José Nélio de Carvalho, ao empresário Luiz Bischof e a tantos outros amigos, leitores d’O Guaruçá, que me incentivam escrever sobre as coisas de nossa terra.
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