Julinho Mendes | |
Depois de mais um ano de dias e noites de trabalho (graças a Deus), a escola me deu a devida e necessária férias e do particular tirei essa semana para vadiar, aliás com todo direito também. Tenho acordado cedo e, com meu pai, vamos até a praia do Itaguá, caminhando descalços pelas areias até o rancho do “Paca” pescador. Dali voltamos, passamos pela “Barra dos Pescadores”, mercado de peixe e lá pelas dez horas já estamos de volta, e com o peixe pro almoço. Hoje, o “Katito” era só alegria! Perguntei para ele quanto estava o quilo do cara-pau e ele respondeu que era menina. Perguntei se estava fresco, respondeu que nasceu de madrugada. Ele estava todo desconcentrado, mas contente com o nascimento de sua primeira neta. Tá ficando velho, já é avô! Parabéns, Katito! Como é gostoso e saudável acordar cedo e caminhar pela praia. Não tem coisa igual pisar na areia serenada, respirar a maresia, ver os guaruçás entrando nos buracos, gaivotas e urubus disputando um peixe, o pescador remando... De tudo isso, o prazer maior, nesse início de verão, é ver o jundu florindo. O contraste do verde das folhas com o lilás das flores do “cipó tainha” é coisa de beleza sem igual. Como é bonito o jundu florido e quanto é importante a sua preservação! Faço uma advertência, aliás já feita aqui n’O Guaruçá: ”Tem gente, na orla da praia do Itaguá, tendo incessantemente a ousadia de cortar a vegetação de jundu para enxergar o mar. Que infeliz e pobre de consciência é esse cidadão!? Mas um dia a natureza dar-lhe-á um pontapé no traseiro! Esperamos que a Polícia Ambiental e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Ubatuba tomem as devidas providências.” Não sei no nome da tralha de cipó que agora solta flores lilás e outras roxinhas, nem mesmo papai lembra do nome, mas lembramos que o tal cipó servia pra fazer fieira de tainha e de outros peixes, que em tempos remotos eram pescados nas redes de arrastões, nas praias. Colocamos o nome de “cipó tainha”, pronto! Uma coisa que observei, e há tempo papai vem falando, é a limpeza da praia. Aproveito para parabenizar quem presta esse serviço, acredito que sejam os garis da Prefeitura. Deixam a praia limpinha e bonita. Parabéns! Eh! A foto acima mostra minha praia muito bonita ainda, praia em que me vi crescer, correndo, brincando com bola, catando sapinhauá e pregauá, pescando carabebe e pampo, tomando banho de mar e aprendendo a nadar, soltando pipa, passando picaré, esperando a rede de arrastão puxada pelo velho Fifo, Alfredo Vieira, Bideco, Ximinguinho, Aládio e muitos outros pescadores. São muitas as lembranças que num dia como hoje me passam pela memória, como um filme de longa metragem... tudo parecendo como se fosse ontem. Saudades! A vida continua. Dos tupinambás que viviam nessa e dessa praia, de Anchieta que escreveu o poema à Virgem, de nós caiçaras em extinção, tudo passa, e se observarmos os “abricoeiros” e amendoeiras expondo suas raízes, não tardará o fim de tudo isso. O mar faminto vai também engolir essa nossa praia.
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