Pensei em tê-lo em casa, só não sabia em que lugar colocar. Na sala de visitas tenho dois do DaMotta: belos entalhes em madeiras e acrílico. Um, retratando a procissão de São Pedro Pescador em plena Baía de Ubatuba, com o Casarão ao fundo, a Matriz e, mais ao longe, o nosso exuberante Pico do Corcovado; o outro, reproduzindo o Cais do Porto com alguns barcos sardinheiros, que sempre me faz lembrar o tempo de criança, em que íamos buscar sardinhas para comer dias após. Na copa tenho uma bela rabeca em caxeta e um São Gonçalo feita pelo nosso querido escultor Bigode. Obras de nossos grandes artistas, que prezo em guarda-las. No meu quarto tenho uma tela em acrílico da artista Pietrina Fili, nossa comadre, grande artista plástica que nos presenteou com uma de suas telas. No quarto da filhona, gravuras de adolescente que jamais permitiria qualquer outra que não fosse condizente com a sua visão tecnológica, ou do fã clube das telenovelas. Na cozinha tenho um Saci, pintura minha, que fiz há exatamente um ano para comemorar o Dia do Saci em Ubatuba. Modéstia à parte, ficou um sacizão bonito, com seu cachimbo de barro. Quando pintei o saci, imaginei “o coisa ruinzinho” (como dizia Tio Barnabé do Sítio do Pica-pau-amarelo) dentro de um redemoinho de vento noroeste. Este eu não vendo, não troco e não dou. No corredor, junto ao oratório, tenho um primitivo, de João Teixeira Leite, retratando a imagem de Nossa Senhora Aparecida, pintura em óleo sobre “eucatex.” No mezanino também tenho uma belíssima paisagem, na verdade é uma fotografia (40 x 60 cm) da praia do Puruba, uma imagem fantástica do aprendiz de fotógrafo, na época, Antonio Joaquim da Silva (Zezinho do Matarazzo). Que fim levou o Quim? Do lado de fora: na varanda, no lavabo e na área, por incrível que pareça também já está tudo ocupado por telhas que também pintei em esmalte, retratando passarinhos, onça, capela, fruta. Até camelo atravessando o deserto tenho dependurado lá. Aonde colocaria aquele belíssimo quadro? Restavam dois lugares: o banheiro e a casa do Boris. Colocar na casa do Boris, meu pastor alemão, não ia dar certo. Ao ver aquela figura todos os dias ou bicho morreria de raiva ou faria greve de fome. Cheguei até a marcar consulta com um médico veterinário que me recomendou não fazer tal coisa, porque o cachorro poderia ter um piripaque psicãodélico. Bom, o único lugar seria mesmo no banheiro. Não sei se é comum colocar um quadro no banheiro, mas não importa, na minha casa terei uma arte plástica no banheiro. Que me perdoe o artista! Tem gente que gosta de ler no banheiro, outros fazem poesia, outros ainda ouvem música. Por que eu não posso obrar apreciando uma obra de arte? Decidido, passei a mão no talão de cheque, cartão de crédito, alguns dólares e mais uns três mil reais em dinheiro que tinha debaixo do colchão e fui no VI Salão Nacional de Belas Artes de Ubatuba, adquirir o meu tão sonhado quadro. Chegando lá a decepção foi grande, a minha tão sonhada obra de arte já tinha sido adquirida pela Fundart (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba). “Que pena!”, pensei. Cabisbaixo e como consolo, restou-me resmungar: “Também, já pensou eu obrando ou peladão no banheiro e aquele ’índio’ me olhando?! E além do mais, uma obra de arte tem que ser apreciada pelo povo em geral. Fez bem a Fundart em adquiri-las para o povo!” Então, aproveito o momento para parabenizar o presidente da Fundart pelas aquisições de tão belas, e porque não dizer, românticas obras de arte. Depois dessa, se eu fosse conselheiro da Fundart, convocaria, o mais rápido possível os demais conselheiros para, juntos, indicar a reeleição do presidente da Fundart, pura e simplesmente pela sua mega sensibilidade artística. Parabéns Fundart!
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