Julinho Mendes | |
Na orla da praia de Iperoig tem um homem que trabalha oferecendo passeio em lombo de jegues. Queria eu poder contratar os serviços daquele homem e promover um pequeno passeio “jegueturístico” com o seguinte pessoal: o prefeito, o secretário Municipal de Turismo, o diretor-presidente da Fundart (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba), secretário Municipal de Cidadania e Desenvolvimento Social, o comandante da Guarda Municipal, os vereadores e também o(a) promotor(a) que cuida do Meio Ambiente, o responsável pela Cetesb e quem mais de direito. O passeio começaria em frente ao portal, ou melhor, a porteira da Tribo Club, na estrada Coaquira, que dá acesso à prainha do Matarazzo. Ali mostraria a imundícia que se encontra naquele pequeno trecho de mata e em todo o percurso da estrada: um verdadeiro “cagadô”, depósito de lixo, depósito de espermas ensacados em camisinhas espalhados pelo chão e mostraria ainda um “belo” exemplar de fogão a lenha feito com blocos de cimento. Dali partiríamos para a cabeceira da ponte de acesso ao Perequê-Açu, onde os idosos jogam truco e dominó. Lá, nossas autoridades passariam tampando o nariz pois ninguém agüenta o futum de “mijo”, a fedentina de peixe secando ao sol sobre a mureta e a catinga dos cobertores estendidos no parapeito, feito varal, tudo isso promovido por pinguços que ali fazem ponto, bebendo cachaça. Por fim, nosso passeio acabaria diante do monumento em homenagem ao padre José de Anchieta (um símbolo da Paz de Iperoig) que já está sem o braço direito, sem os dedos da mão esquerda e sem os dedos do pé direito. Pois é! No ponto mais belo, mais tradicional e histórico do Centro de nossa cidade, em tão pequeno trecho, observamos o mais degradante cenário de descasos, de incapacidade administrativa, de falta de carinho, de desrespeito, enfim, com todo poder das leis, do dinheiro, da mão-de-obra e de operação que nossas autoridades têm, infelizmente nós, munícipes e turistas, assistimos cenas de desconforto, de depreciação. Para mim, o pior de tudo é ter que relatar, dessa forma, os fatos que presenciei na manhã de domingo, expondo-me ao mau-olhado, sendo ignorado, marcado talvez, pelas autoridades. Me perdoem, mas duas coisas me confortam: 1) esta cidade (este recanto) é muito mais minha do que de qualquer autoridade; 2) já a indignação não é só minha, mas sim de milhares de pessoas que, diariamente, ali transitam e passeiam, e que por algum motivo não querem se expor ou não sabem como. Sei que nossas autoridades jamais sentariam no lombo de um “jeguinho” para verificarem tal situação, ainda mais sabendo que os “jeguinhos”, de vez em quando, dão um bela “mijada”; mas, disfarçadamente, como quem não quer nada, poderiam entrar em seus carrões de vidro fumê, analisar a problemática dos locais e executarem a “solucionática”. (A “solucionática” é tão fácil e tão simples que dá vergonha de expô-la aqui.)
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