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COLUNISTA
Eduardo Souza
30/08/2004 - 11h44
Olimpíadas I
 
 

Acabadas, as Olimpíadas, estou de volta. Não que estivesse praticando alguma modalidade esportiva, mas por estar consultando oráculos. E todos foram unânimes em responder que o Brasil não tem mais jeito e que o caminho que está seguindo é sem volta.

Um amigo que não via há algum tempo, e que encontrei na rua por acaso, também vaticinou: Tá uma merda. Agora a ditadura vai ser de esquerda, de inspiração cubana. Como a liberdade não é uma coisa absoluta, como disse o camarada Gushiken, vou enfiar minha viola no saco, que não sou besta. Antes, cito Ortega Y Gasset, a propósito do momento que passa e que, pelo andar da carruagem, vai demorar pacas:

"Por outro lado, o homem-massa vê no Estado um poder anônimo - vulgo -, crê que o Estado é coisa sua. Imaginemos que aconteça qualquer dificuldade, conflito ou problema na vida pública de um país: o homem-massa tenderá a exigir que o Estado o assuma imediatamente, que se encarregue diretamente de resolvê-lo com seus meios gigantescos e incomparáveis. Este é o maior perigo que hoje ameaça a civilização: a estatização da vida, o intervencionismo do Estado, a absorção de toda espontaneidade social pelo Estado; isto é, a anulação da espontaneidade histórica, que definitivamente sustenta, nutre e impulsiona os destinos humanos. Quando a massa se sente insatisfeita, ou simplesmente tem algum forte desejo, é para ela uma grande tentação essa possibilidade permanente e segura de conseguir tudo - sem esforço, luta, dúvida ou risco -, sem precisar fazer nada além de apertar a mola e ligar a portentosa máquina" [...] "A espontaneidade social será freqüentemente violentada pela intervenção do Estado; nenhuma semente nova poderá frutificar. A sociedade terá que viver para o Estado; o homem para a máquina do governo. E, como afinal não passa de uma máquina cuja existência e manutenção dependem da vitalidade circundante para sustentá-la, o Estado depois de sugar o tutano da sociedade, acabará magro, esquelético, morrendo dessa morte ferrugenta da máquina, muito mais cadavérica que a do organismo vivo" [...] "o Estado pesa com uma supremacia antivital sobre a sociedade. Esta começa a ser escravizada, a não poder viver senão a serviço do Estado. Toda a vida se burocratiza. E o que acontece? A burocratização da vida determina sua mingua absoluta - em todos os campos." [...] "Então o Estado para prover suas próprias necessidades, força ainda mais a burocratização da existência humana. Essa burocratização elevada à segunda potência é a militarização da sociedade". (A Rebelião das Massas, José Ortega Y Gasset, Ed. Martins Fontes)


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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