| Arquivo JM | | | | João de Souza. |
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A gente tem conhecidos, amigos e companheiros. Da pessoa, de quem vou falar, já fui até rival. Eu de um lado, ainda garoto, com meu tamborim, defendendo a Escola de Samba Brasília, e ele, já mais de idade e experiente, também com seu tamborim, defendendo a Mocidade Alegre do Itaguá. Entre um samba e outro, éramos apenas conhecidos... Isso foi no período áureo do carnaval das escolas de samba de Ubatuba. Depois passamos a ser amigos e ao lado de outros amigos juntos passamos a falar da cultura dessa nossa terra caiçara. Foi o radialista Tony Luiz, através dos microfones da rádio Costa Azul e Gaivota FM (programa Ranchinho Caiçara), que uniu esses caiçaras para falarem das nossas raízes, dos nossos costumes, lendas, folclore, história, causos, culinária etc. Foi aí o início de minha amizade com João de Souza. Foi no programa Ranchinho Caiçara que, não só eu, mas boa parte da população de Ubatuba passou a conhecer e a gostar do poeta João de Souza "do pé rachado". João relatava passagens de sua vida, fatos da história de Ubatuba, causos hilariantes e pitorescos do cotidiano caiçara. Disso surgiu o companheirismo. Era eu quem digitava seus contos; passei a freqüentar sua casa; conhecer sua família; admirar sua sinceridade, honestidade, bondade; gostar de suas histórias, do seu espírito brincalhão e esportivo, enfim, meu santo bateu com o dele. Das coisas que sei da cultura caiçara boa parte aprendi com João de Souza. Hoje ele já não está mais entre nós, São Pedro o requisitou para contar histórias lá no céu. Tá lá com o amigo Clementino Soares fazendo os anjos morrerem de rir com seus fabulosos e pitorescos causos caiçaras, como por exemplo os causos: A mulher que perdeu a Memória, O choro das crianças pagãs, A revolta dos guaruçás, Bagre engarrafado, Cama de pau duro, A capela do Itaguá, As ostras do rio Puruba, muitas, muitas e muitas histórias que, como ele mesmo dizia, não se encontram em estantes de bibliotecas e livrarias, somente na fala de um locutor da rádio Costa Azul, dos programas Ranchinho Caiçara e agora o Fogão de Lenha. É meu amigo João, infelizmente suas histórias, seus causos, sua vida de caiçara não se encontram em estante de livrarias e nem de bibliotecas! Por que? Peço sua licença, amigo João de Souza, para falar o porque. Porque não há uma política cultural para cuidar, preservando e mantendo efetivamente a história de nosso povo e de nossa cultura. Estamos enterrando nossos caiçaras e junto enterrando seus conhecimentos e sabedorias, suas artes, suas histórias, suas músicas e canções, suas danças... sua cultura; e a famigerada política só tem olhos para fomentar a famigerada política. Valeu amigo João de Souza, você cumpriu sua missão com muita dignidade, com muito amor e carinho. Teremos saudades sim, porque você foi exemplo de bem viver.
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