| Arquivo | | | | Capa da cartilha Caminho Suave. |
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Remando pela web, dei com a foto aí ao lado. Caminho Suave – a cartilha com a qual minha geração aprendeu a ler e a escrever. Não somente a minha, mas várias outras. Até o dia em que resolveram revolucionar o ensino. Não trocaram somente a cartilha, mas a filosofia do ensino. Revolucionaram tanto que deu nisso que vemos hoje em dia. Jogaram fora o que havia de bom na tradição e, no lugar, puseram os Vygotskys e Paulo Freires. Pedagogos para a doutrinação marxista. A ideologia dominante, o marxismo. Se o fundamento é a igualdade, nada de emulação, de esforço, de excelência. Deu nisso: nivelamento por baixo. As nossas escolas são contraceptivos para evitar a competência, sem falar da genialidade que acaba sendo abortada. Da web, passei a navegar pela alma, levado pelas correntezas da memória. Caminho Suave. Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva. Dona Mercedes, Lauristano, dona Odisséia, dona Lurdes – meus professores do primário. “Não chores, meu filho; / Não chores, que a vida / É luta renhida: / Viver é lutar. / A vida é combate, / Que os fracos abate, / Que os fortes, os bravos / Só pode exaltar.” Fomos formados para a vida, para a realidade. Não para transformarmos o mundo, porque, é bom que se diga, toda tentativa de mudar o mundo resultou em morticínio. As tentativas do socialismo-comunismo, por exemplo, em tempos de paz, mataram mais gente que as duas guerras mundiais. Mas fomos educados para crescermos interiormente, para sermos homens melhores. E ninguém cresce interiormente sem ordem, disciplina, hierarquia, respeito, capacidade de pensar por contra própria. Coisas impensáveis hoje em dia. Mas, sem esses ingredientes, a liberdade se torna palavra sem consistência. Caminho Suave. Boas lembranças. Não nos tornamos santos. Não éramos uma legião de serafins. Pelo contrário, havia até os endiabrados incuráveis. Mas, dentro da sala de aula, continham-se, sossegavam o facho. O caminho da diretoria, falar com o Heber Lino, significava castigo em casa. Levei algumas coças. Não morri, não fiquei traumatizado, não fiquei ressentido, e nem deixei de amar meus familiares e meus amigos. Creio em Cristo e no amor ao próximo como caminho de volta a Ele. Um caminho que não é suave, difícil, porém, necessário.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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