A coisa tá mesmo feia. Essa tal da dengue continua fazendo estragos. Depois dela, você nunca mais será o mesmo. Estava no meu canto, roendo o pão amanhecido pelas esperanças malogradas, e eis que me vejo inoculado por essa peste. Não fica nada a dever àquelas sete com que o Charlton Heston castigou o Egypto dos Pharaós. Aedes Aegypti, o nome do flagelo. Nessa hora, a gente até sente saudades do singelo borrachudo. Depois da dengue, certos softwares e hardwares começam a dar pau. Em algumas pessoas a travar o fígado, em outras os rins. Há quem se queixe de infecção nas vias urinárias, de queda de cabelo, de dores musculares etc. Sentimento de impotência. Não, não a sexual. E, para piorar a situação, fiquei sabendo que os órgãos responsáveis pela saúde pública estão com sintomas de irreversível necrosamento. Não quero acreditar. Só falta agora aparecer alguém das altas esferas para macaquear a nossa sexóloga ministra do Turismo. Só que, com a dengue, não dá para relaxar. Gozar, então, nem pensar! O melhor é seguir o conselho do apedeuta quando entra num avião: entregar a vida a Deus. Mas será que ele faz isso até mesmo naquele aviãozinho que comprou - um jato Airbus, ACJ 319, ao custo de US$ 56,7 milhões, equivalentes a R$ 153 milhões - para viajar e posar de estadista nas grandes nações africanas e latino-americanas, o aerolula? E já que mencionei o apedeuta, o condutor do povo brasileiro - e como ele nos conduz, meu Deus! -, devo deixar consignado que a vaia a ele consagrada no Maracanã teve em mim um efeito mais eficaz do que os paracetamóis que andei tomando. Nem tudo está perdido. Cansei. Vaia nele e na dengue.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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