Tenho de agradecer aqui alguns e-mails recebidos de leitores desta revista a respeito das minhas mal digitadas com pretensões de crônicas ou seja lá o que possam ser. Recebi um, meio picaresco, no bom sentido, do Cristiano do Crato. Não sei se o nome dele é esse mesmo ou se é pseudônimo. Disse-me que, a propósito do Reflexões Estapafúrdias, para problemas do espírito, no final do dia, ele toma umas e dorme que nem um anjo. Neste nosso tempo de Bin Laden e Luiz Ignácio, anjo que dorme, que não vela, ou é funcionário público celeste, ou é biriteiro contumaz. O leitor amigo corre o risco de se tornar um alcoólatra. Sugiro que o amigo troque de nome, se este é realmente o nome dele. Já que estamos nas questões espirituais, ocorreu-me a frase: "Do que há em abundância no coração, disso é que fala a boca" (Mat. 12,34). Taí o Luiz Ignácio, quando fala de improviso, que não deixa mentir. Ah, o coração! O meu anda abarrotado, feito mala de vendedor ambulante, e a boca cheia de palavras vespas que me obrigam, nem sempre, a tirar-lhes o ferrão antes de expeli-las. Mas de que anda cheio este coração praiano? Da mediocridade e da imbecilidade socializadas com que se conforma o mundo neste nosso tempo. A gente vai se entupindo da criatura e se esvaziando do Criador, parafraseando Mestre Eckhardt. Há certas coisas que me entopem até as artérias. A melhor ponte de safena, nesses casos, é se tornar politicamente incorreto. A última que quase me fez chamar a ambulância foi a da ONU tachar de imoral o Estado de Israel por ter pulverizado aquele tio-avô do Bin Laden, o da cadeira de rodas, que ensinava os jovens palestinos a se vestirem com a última moda do oriente médio - o colete de dinamites - com a promessa de que no paraíso ganhariam todas as minas do pedaço. O governo israelense não pode combater assassinos de sua população civil, de crianças, de gente inocente, mas o ditador cubano pode mandar executar sumariamente ou manter na prisão dezenas de pessoas pelo crime hediondo de expressarem seus pensamentos ou de tentarem sair da ilha prisão. A ONU faz vista grossa e até permite que a Cuba desse comunossauro assassino participe da entidade. Acertou o Papa quando disse que é preciso à Organização das Nações Unidas preocupar-se mais com as questões éticas em sua própria estrutura. Para finalizar, leiam as idiotices, as insanidades que diz um tal de Slavoj Zizek, filósofo esloveno, no Mais! da Folha: "... em vez de lamentar o fato de que, de todas as grandes religiões, o Islã seja a mais resistente à modernização, seria melhor ver nessa resistência (leia-se resistência tipo Al Qaeda) uma oportunidade, pois o fato é que ela não conduz necessariamente a um ’islamismo-fascismo’ e pode muito bem ser articulada num projeto socialista "[...]" o Islã pode também vir a ser o lugar para o que há de melhor". É gozado como o socialismo está sempre em projeto e como nunca tenha se concretizado o tal do socialismo real. O que já se implantou em diversos países, defendem-se eles, foi sempre o socialismo coxo, atrapalhado pelas forças demoníacas do capitalismo. Mas a história desse socialismo é a de desastres na economia, de aniquilação dos direitos do indivíduo e é atrelada a milhares de cadáveres de gente inocente. Clama da terra o sangue desses inocentes vitimados nessas revoluções redentoras, nesses laboratórios manipulados por doentes do espírito, sociopatas, falsos profetas, feras travestidas de cordeiros, que insistem em conduzir o povo para o reino socialista, para o que há de melhor. Argh! Ô Cristiano do Crato, me dá logo uma caixa para ver se em vez de dormir, como esse seu anjo barnabé, apago de vez. Ainda se fala em Governo Mundial... Aqui proceis, ó!...George Bush neles.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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