| GAT | | | | Ipê-rosa, rua Professor Thomaz Galhardo, Centro. |
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O ipê-rosa, plantado na rua Thomaz Galhardo, nas imediações da igreja de São Francisco, floriu. Cheio de buquês de florzinhas cor-de-rosa. Belíssimo. Majestoso. Todos os dias, passando pelo local, indo para o centro da cidade, onde trabalho, habituei-me a contemplar, de passagem, a estibordo de minha bicicleta, primeiro para a cruz de madeira, depois para a imagem de Nossa Senhora, ambos no adro da igreja e, logo adiante, para o ipê plantado na calçada. Olho para a cruz para pedir força e coragem no enfrentamento das circunstâncias (no sentido orteguiano do termo). À imagem de Nossa Senhora, para que me seja fiadora. Quanto ao ipê-rosa, vendo-o, mês após mês, nas minhas idas e vindas pela ciclovia, com aqueles galhos finos, desfolhados, cheios de fuligens da cidade, encontrá-lo agora todo imponente, com seus buquês rosados, contrastando com o azul infinito do céu neste princípio de inverno, me faz sentir, no fundo da alma, que, através dele, Deus fala comigo. A verdade contida na beleza. Solitário, numa rua movimentada de uma cidade que parece indiferente à sua existência, o ipê-rosa busca o céu, floresce, renasce acima dos telhados. Morrer para renascer. O florescer daquele ipê é um momento de epifania.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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