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COLUNISTA
Eduardo Souza
08/06/2007 - 07h11
1969 e um adeus
 
 

O ano: 1969. O mais feliz de nossas vidas? Para muitos de nós, sim. Éramos uma turminha de rapazes e meninas, na faixa dos 15-19 anos, muito unida. Foi o ano de nossa formatura no ginásio. Estudávamos no Capitão Deolindo. Sabíamos que, para alguns de nós, aquele ano era de despedidas. Em Ubatuba naquela época não havia o colegial, e os que pretendiam chegar à faculdade tinham de estudar fora, em Caraguatatuba, Taubaté ou em outra cidade mais distante. Naquele tempo as cidades eram distantes. A nossa formatura de 4ª série do ginásio aconteceu em 19 de dezembro, no cine Iperoig, numa manhã ensolarada, com muito riso e algum choro.

É difícil explicar o que foi aquela turma. Não nos desgrudávamos. Fosse na praia, no cinema, no boliche, na avenida Iperoig, no Da Pesada, nos bailinhos, estávamos sempre juntos. Amizades para a vida inteira. Sempre quando encontro alguém da turminha, inevitavelmente, vêm as lembranças. Alguns deles, não vejo há muitos anos. Mas fazem parte do que sou. Habitam-me carinhosamente.

No Capitão Deolindo, na hora do recreio, havia um barzinho improvisado, de madeirite, onde vendíamos sanduíches e refrigerantes para juntar o dinheiro que seria usado na formatura. O ginásio funcionava provisoriamente no prédio da A.L.A., onde hoje está instalado o colégio Olga Gil, enquanto se esperava o término da construção do prédio novo, o do atual colégio estadual Capitão Deolindo. O diretor do ginásio era o saudoso, e muito querido por todos nós, José Celestino S. Aranha.

Preciso dizer, de passagem, que foi no ano de 1969 que se criou a bandeira de Ubatuba. Foi através de um concurso, na aula de desenho. As alunas vencedoras do concurso, as autoras da bandeira de Ubatuba, foram minhas colegas de classe, Helena Yoshio Kanazawa e Amélia Mesquita dos Santos. Nossa professora de desenho era a Angela Aparecida Pereira - linda! -, de Cachoeira Paulista, a quem também há muitos anos não vejo.

Após este interregno de informação histórica, retornemos para não perder o fio da meada. Na arrecadação de fundos para a formatura, promovíamos também os famosos bailinhos nas casas de alguns desses nossos amigos. Tempos em que se dançava agarradinho, ao som de Johnny Rivers e Johnny Mathis. Os bailinhos eram feitos nas salas das casas dos pais da Carmem Lúcia, da Sueli Bueno e do Roberto Minoro Suguimoto.

Pois é, o Minoro. Pau para toda obra. Generoso com os amigos. Companheirão. Não teve muita sorte no amor. Depois do ginásio, não continuou estudando. Voltou-se inteiramente ao trabalho. Aliás, quando estudava conosco, já dava um duro danado para ajudar o pai no caminhão de transporte de mercadorias da Capital e cidades do interior para Ubatuba.

Não podemos recordar 1969 sem a presença daquele nissei (ou era sanssei?) de cara redonda, ar bonachão e sempre sorridente. Não pude me despedir do Minoro. Quando fiquei sabendo, ele já havia sido sepultado, numa manhã ensolarada e fria deste mês de junho. Não mais a graxa no corpo e nas roupas, não mais a mecânica dos automóveis, não mais as angústias, as depressões, as incertezas da vida. Diz Manuel Bandeira:

"Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.

Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra,
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue,
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.

Mas agora não sinto a sua falta.

(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)

Você não morreu: ausentou-se."
...

Pois é, Minoro, na outra dimensão da existência, na verdadeira vida, você deverá ter paciência - afinal adentrou na eternidade - e esperar, pois, um dia, sem os limites do tempo, faremos por aí um revival daqueles bailinhos, e teremos novamente o que havia de melhor em nós: a juventude. Sem maldade, sem malícia, com muito amor para dar e, quanto às meninas... Bem, tenho certeza de que estarão belíssimas e novinhas em folha. Do you wanna dance?


Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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