Nessa época do ano o sapé já está de vez, daqui mais um mês estará seco, pronto para qualquer desprovido de consciência meter fogo, queimando, enfraquecendo a terra e avançando mata virgem adentro. De forma a preservar a mata, acho que seria possível a Secretaria Municipal de Meio Ambiente elaborar um projeto para isolar o sapezal da mata nativa. Como? Cortando e retirando numa largura de aproximadamente dois metros a borda desses sapezais. Esse sapé retirado poderia muito bem servir de cobertura às barracas de nossas festas de inverno, ficando mais autênticas e condizentes com os valores da cultura caiçara. Em São Luiz do Paraitinga, na tradicional Festa do Divino, acontece o AFOGADO, que não preciso explicar o que é, porque todos os anos as redes de televisão nos mostram. Por que em nossa Festa do Divino não fazemos o ALAGADO? O alagado seria, servir gratuitamente ao devoto do Divino, durante um dia da festa, um prato de pirão com banana verde e uma posta de tainha ou outro peixe qualquer. Como em São Luiz cada fazendeiro doa um boi para o afogado, aqui cada pescador e peixeiro, doaria à bandeira do Divino uma porção de peixe. Faríamos o alagado, que tenho certeza seria um prato cheio para as televisões e uma grande atração turística para Ubatuba. Uma outra coisa que temos que repensar é quanto às atrações musicais de nossas festas tradicionais. Muitas pessoas que realmente gastam nas festas perguntam por que Santo Antonio, São João, São Pedro e até o Divino Espírito Santo, são embalados por rock paulera, reggae, axé, hip-hop? Nada contra esses ritmos ou grupos, mas é de se lamentar que em dez dias de festa ao Divino Espírito Santo em Ubatuba, em meio dessa balada toda não se apresente um único grupo folclórico do município. É de se lamentar que nossos festeiros não se preocupem em preservar, valorizar, e manter nossas raízes e nossa identidade folclórica cultural, se ainda esses festeiros não tivessem raízes e identidade caiçara, há de se entender, mas são ubatubanos caiçaras. Precisamos avisar aos nossos festeiros que já existe no Brasil o Turismo Cultural, e que ele atrai para o Brasil um grupo muito grande de turistas nacionais e internacionais especificamente para conhecer a cultura e o folclore de cada cidade ou região brasileira; não precisamos ir muito longe para presenciar este fato, basta assistir à TV’s culturais ou ir à Paraty. Vou dar aqui um exemplo da falência de uma região noturna comercial de nossa cidade: A avenida Iperoig. Quando os Blocos Folclóricos e Escolas de Samba passavam com seus livros de ouro pedindo colaboração, somente e efetivamente a Papelaria Marques ajudava, o resto não dava nem confiança. Hoje lamentam o estado deplorável em que se encontra a avenida Iperoig. É hora de começarem a pensar (comerciantes e prefeito/Fundart/Setur) numa política cultural para a avenida Iperoig. Essa política, sem sombras de dúvidas, deverá ter como base a Cultura Caiçara, que adormece nos sertões, que fica dependurada em beira de asfalto, que canta e toca escondido dos fiscais e da polícia, que dança para quatro paredes, que conta no Fogão de Lenha... É essa cultura caiçara que alavancará o desenvolvimento turístico de Ubatuba! Mas voltando a nossa Festa do Divino. Já pensaram em organizar um grande concurso de dança quadrilha de toda região de nosso litoral? Um festival de música caiçara? Um festival de música sertaneja? Já pensaram em trazer grupos de Fandango Caiçara, Congadas de São Benedito de outras cidades? Um festival da culinária caiçara? Já pensaram em colorir nosso corredor turístico com bandeirinhas e alegorias do nosso folclore? - Ehhh cumpadre, acooooorda! Pra que ter tanto trabalho? Pra que pulá fogueira? Pra que assá batata doce? Pra que se lambuzá no pau de sebo? Pra que sortá buscapé? Pra que fazê o coelhinho entrar na toca? Pra que tocá viola e sanfona? - ÉÉÉÉÉÉ, cumpadre, cê tem razão, num vamo inventa moda! Assim tá feio mais tá bão! Com o dinheiro do bingão do artomorvel, a gente aluga as barracas de plástico, agente paga os roqueiros para fazerem bastante barulho, assim a promotora de justiça manda a festa acabar mais cedo e a gente vai dormi mais cedo; ao invés de inventa esse tal de alagado para dá comida de graça ao povo, deixa o povo pagá a tainha assada, quem sabe sobra a ova pra nóis? - Ehhhh cumpadre esperto, então vamo dá um viva! - Viva Santo Antonio! Viva São Pedro!Viva São João! Viiiiiva! Obs.: Dou o meu viva e parabenizo a parte litúrgica da festa que foi muito bonita.
|