“Natureza – homem – cultura: o turismo inexiste sem esta tríade e cada vez mais se apropria dos recursos naturais e culturais como elementos primordiais para seu desenvolvimento, principal fator de atividade [...] Por meio do turismo, o patrimônio natural e cultural passa a ser tratado como um produto de mercado destinado ao consumo de um público a cada dia mais diversificado, mais exigente e mais sofisticado.” (Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados – Kotler, Philip – São Paulo – Futura – 1999)
Acompanho, e não é de hoje, essa febre intermitente que se instalou na Fundart (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba) desde sua criação. Não é de hoje também que tento mostrar a causa da infecção. Todavia, de quatro em quatro anos, teima-se em lhe dar uma novalginazinha para que ela fique de pé e siga em frente. Alguns amigos a vêem agonizante, pois até o que há pouco tempo funcionava a contento – a nossa Biblioteca Atheneu Ubatubense – está se deteriorando: pela inexistência de bibliotecária, de funcionários, pelo não tombamento dos livros (falta informatizar) e pelo acesso direto e inadequado aos livros do acervo pelos usuários. A maioria, estudantes, adolescentes. Culpa de quem? Dos presidentes da Fundação? Não só deles. A grande parcela da culpa deve recair sobre as administrações municipais que continuam vendo a cultura como excrescência, como algo que não contabiliza votos. Nunca se enxergou o óbvio, ou seja, o fato de que não é possível pensar a Fundação – enquanto instrumento da política cultural para o município, estabelecido na lei orgânica – como algo distinto e desligado da política econômica. E, a propósito de nossa principal atividade econômica, que hoje se encontra bastante debilitada, é bom lembrar que, em virtude de maiores e melhores condições de locomoção, inexistentes nas décadas de 60 e 70, o brasileiro tem possibilidade de conhecer, de desfrutar das mais diversas localidades do nosso país. O fácil acesso a locais paradisíacos de singularidades históricas e culturais aumentou consideravelmente a oferta e a concorrência entre as cidades que vivem do turismo. Não estamos mais no tempo em que o paulistano, de classe média alta, cansado da Baixada Santista e de seus farofeiros, vinha para cá, fazendo rallly por nossas estradas, certos do aprazimento edênico e do alívio à estafante lide da metrópole. Paulistano que aqui investiu, construiu belíssimas casas, gerou emprego e renda no município, até que a opção pelo turismo de massa e a leva de migrantes, em busca de melhores condições de vida, detonou o paraíso. Hoje não é mais possível pensar o turismo sem que tenhamos em perspectiva a cultura e o meio ambiente. São, necessariamente, correlacionados. Fazer “festas” ou vender tão somente as nossas decantadas setenta e tantas praias e a exuberante natureza da região não basta. É preciso bem mais. Poderíamos começar por promover a interface da cultura não só com o turismo e o meio ambiente, mas também com a promoção social, a segurança pública, a urbanização e a educação. Ou seja, políticas públicas integradas para promover o desenvolvimento econômico, a qualidade de vida da população residente e atender as expectativas da demanda turística. A cultura e a história do município, como patrimônio e produto comercializável, poderia ser o nosso diferencial, o que nos distinguiria de outras cidades (a exemplo de Campos do Jordão, com o festival de música), o que nos possibilitaria sobreviver nesse mercado super competitivo. A Fundart deve ser vista dentro desse contexto, como instrumento, como um órgão correlacionado a outros e todos envolvidos sinergeticamente a um projeto maior de desenvolvimento do município. Sem isso, a nossa Fundação será sempre essa eterna agonia. E a cidade também, apesar dos canteiros de obras.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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